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29 de novembro de 2025

Caminho para o Grito, de Jarid Arraes, e a capacidade que só os poemas têm de dizer o indizível


Caminho para o Grito foi meu primeiro contato com a escritora, cordelista e poeta Jarid Arraes. Na coletânea, a autora nos apresenta ao que tem sido descrito como sua obra mais pessoal e corajosa: um livro que aborda memórias de abuso sexual, pedofilia e explora as marcas duradouras desses traumas.

De cara, já me deparei com um texto que fala sobre o quão cotidiano é o estupro. Jarid inicia sua coletânea de poemas com um "não-poema", e justifica:

[...] eu poderia fazer
deste poema
uma denúncia
um manifesto
uma crônica
um campo aberto
mas minha amiga
foi estuprada ontem
minha amiga foi
estuprada
hoje
e nada mais
merece
verso

Jarid escreve com sutileza sobre coisas brutas. Com palavras bonitas, ela fala sobre coisas terríveis. E utiliza-se de sua escrita para falar sobre acontecimentos e sentimentos que são muito difíceis de abordar, "mas pelo menos finalmente estou falando disso".

O livro reúne quase 50 poemas, divididos em três partes, que acompanham as primeiras violências de sua infância às consequências em sua vida adulta. A leitura não é e nem pretende ser fácil. Afinal, os versos revelam imagens cruas que tornam palpável a violência e suas consequências.

As temáticas abordadas pela poeta são dolorosas, incômodas e, por vezes, perturbadoras. Tenho lido muita poesia escrita por mulheres e percebo que quase sempre elas relatam dores profundas, principalmente àquelas ligadas à violência de gênero. Não porque essas autoras gostam de abordar esses temas terríveis, mas porque a poesia oferece um espaço onde o que é traumático pode finalmente existir.

A linguagem poética permite dizer o indizível e transformar memórias brutais em ritmo, sem reduzir a experiência a uma transcrição fria, mas também sem transformá-la em espetáculo.

Desde que existe, a poesia tem sido um espaço onde a humanidade coloca aquilo que não cabe em nenhum outro lugar. Quando uma poeta escreve sobre violência, abuso ou trauma, ela cria um lugar onde a dor pode ser reorganizada, encarada de frente e, às vezes, compartilhada de modo a produzir sentido.

Quando algo é muito traumático, muito íntimo ou muito complexo, o discurso comum, lógico e linear parece não dar conta. Vocês já perceberam isso? Quanto mais complexa é a experiência, mais sentimos a necessidade de "poetizar". Isso acontece porque a poesia rompe com a rigidez do discurso

A poesia usa imagens e metáforas para expressar o que é quase inexpressável. Por isso ela se encaixa tão bem em temas dolorosos: ela não precisa explicar, ela pode mostrar e/ou sugerir.

Meu primeiro contato com Jarid foi certamente memorável. Seus poemas me entristeceram e enraiveceram. Apesar de o livro ter apenas 80 páginas, foi uma leitura densa e poderosa. Recomendo que sua leitura seja feita com cautela e cuidado.

Autora: Jarid Arraes ✦ Páginas: 80
Ilustrações: Gabee Brandão ✦ Editora: Alfaguara
Livro recebido em parceria com editora
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25 de novembro de 2025

Lapso, de Ren Nolasco e Márcio Moreira: Uma HQ belíssima, mas muito confusa


Lapso é uma HQ linda. Visualmente, é de encher os olhos. As cores são vibrantes, intensas, e criam uma atmosfera outonal que combina perfeitamente com o tom misterioso da história. O laranja e o azul dominam as páginas, e juntos criam um contraste que é, ao mesmo tempo, aconchegante e desconcertante. É o tipo de arte que dá vontade de folhear devagar, só pra apreciar cada quadro.

A protagonista é a Verônica, uma bruxa desempregada que vive na companhia de seu bichinho de estimação, Cocota, e que está determinada a alavancar a sua carreira como vidente, inclusive comprando uma estrela. Um dia, Verônica está dirigindo até o mercado e acaba atropelando uma pessoa. A partir daí, tudo começa a se fragmentar. Lapsos de tempo, aguá, uma floresta, um gato preto, um alienígena e uma narrativa que vai se embaralhando de propósito. Verônica está perdida entre tempos e espaços, e o leitor também. A confusão é parte da experiência, já que o roteiro quer que a gente sinta o mesmo desencaixe que ela sente.

Mas, sinceramente, achei Lapso confusa DEMAIS. É aquele tipo de história que só dá pra entender o todo lá no final, e aí vem aquela sensação de “agora até que faz sentido.. eu poderia reler e, dessa vez, eu compreenderia". Mas, foi uma leitura tão cansativa (apesar de curta) que eu não quis ler de novo. A estrutura circular, as repetições de cenas e os saltos temporais criam um efeito interessante, mas também cansativo.

Eu também preciso dizer que, pessoalmente, já tenho uma certa dificuldade com a linguagem das histórias em quadrinhos. Acho que é um formato naturalmente mais abstrato, que exige um tipo de leitura diferente, mais visual e simbólica, e isso, pra mim, sempre foi um desafio. Então, como Lapso já é uma HQ sobre lapsos temporais, essa complexidade toda acabou tornando a experiência ainda mais difícil. Talvez essa sensação de confusão que tive tenha mais a ver comigo do que com a própria obra.

Apesar de toda a confusão temporal, Lapso tem um humor muito gostoso. É uma história leve, com personagens modernos, que falam e agem de um jeito bem jovem, quase adolescente. As interações têm aquele toque irônico e divertido, que quebra o clima misterioso e deixa tudo mais dinâmico. Talvez por isso a HQ funcione especialmente bem com um público mais jovem, que vai se identificar com o ritmo rápido, o humor inteligente e a linguagem contemporânea dos personagens.

Mas Lapso não é só humor e confusão temporal. No fundo, essa HQ é também uma história sobre autodescoberta. Verônica está tentando se encontrar, entender quem ela é e qual caminho quer seguir. Ela trabalha como bruxa vidente e busca se firmar nessa profissão pouco convencional, enquanto lida com a pressão de fazer algo mais “seguro”, como prestar o Enem e seguir uma carreira tradicional. Esse conflito entre o que o mundo espera de você e o que você realmente quer ser é algo muito humano, especialmente na juventude. Por isso, reforço que, na minha opinião, Lapso acaba conversando melhor com quem está nesse processo de se descobrir, de se aceitar e de escolher seu próprio caminho.

Pra mim, Lapso é uma HQ que vale a pena pela estética. A arte é lindíssima, a paleta de cores é deslumbrante, e o clima de mistério prende. É uma leitura rápida, dá pra terminar em 30 ou 40 minutos, mas que deixa a mente girando um pouco depois. Não sei se amei, mas certamente não vou esquecer.

Título Original: Lapso ✦ Autores: Ren Nolasco e Márcio Moreira
Páginas: 144 ✦ Editora: Suma HQ
Livro recebido em parceria com editora

18 de novembro de 2025

Alchemised, obra de SenLinYu que começou como uma fanfic de Harry Potter, vale essa comoção toda?

Alchemised quase dispensa apresentações. Começou como uma fanfic de Harry Potter e conquistou uma legião de leitores online. O sucesso foi tão grande que acabou se transformando em um livro publicado, prometendo entregar a mesma emoção e intensidade da fanfic, mas dentro de uma nova história com um universo e sistema de magia completamente originais. Eu nem sou uma grande fã de Harry Potter, mas cresci assistindo os filmes, portanto, esse universo faz parte das minhas referências mais remotas.

Antes de ser Alchemised, a fanfic se chamava Manacled e era um romance entre Draco e Hermione numa versão da saga em que Harry Potter morre e Voldemort vence a batalha. Em Alchemised, Draco e Hermione se tornaram Kaine e Helena. E é aqui que surge a primeira grande dificuldade de transformar uma fanfic em uma história original. Quando você inicia a fanfic, já há muita emoção envolvida, porque conhecemos aqueles personagens. A dor da Hermione é real porque a vimos crescer (nos livros e/ou nos filmes). Já na história original, SenLinYu precisou nos dizer e nos convencer de que Helena estava devastada com o desfecho da guerra, o que não tem o mesmo impacto.

Mas fica ainda mais difícil. Em Manacled, SenLinYu não precisou criar um universo e um sistema de magia. Afinal, eles já existiam. No entanto, para ser publicado como uma história original, SenLinYu precisou criar tudo do zero. E será que conseguiu? Bom, na minha opinião, não. O universo criado para Alchemised é confuso, incoerente, cheio de falhas e parece um recorte de um monte de coisa que já existe, só que mal feito. SenLinYu até tenta, e muito, incansavelmente, por muitas e muitas páginas, explicar e dar sustentação para esse mundo, mas nada faz muito sentido, muita coisa fica sem resposta ao final do livro e há diversas contradições (como dizer que animantes são raros e, ao final do livro, uma galera era animante em segredo 🤡).

A proposta até chama atenção: um mundo de alquimia, segredos e moralidade cinzenta. Mas o que poderia ser um universo rico e fascinante acaba se perdendo em um enredo confuso, mal explicado e repleto de inconsistências. O livro é extenso (MUITO extenso) e boa parte dessa extensão se deve à repetição. Repetição de ideias, de falas e de situações que não acrescentam muito à trama. Em vários momentos, senti que estava lendo a mesma cena sob uma luz ligeiramente diferente. Por exemplo, quando SenLinYu tenta nos mostrar como Helena é mal tratada pela resistência. Ela nos mostra isso uma, duas, dez, cinquenta vezes e OK, JÁ ENTENDI.

O maior problema, talvez, seja o desequilíbrio entre a ambição de SenLinYu e a execução. Há uma tentativa de criar algo grandioso e denso, mas o resultado é um mundo que soa inacabado, com regras vagas, confusas e inconsistentes. A leitura acaba se tornando cansativa, e é difícil se manter investido quando a lógica interna da história não se sustenta.

Certo, não funciona como fantasia... Mas e como romance? Afinal, era assim que se vendia quando ainda era uma fanfic Dramione. E, de novo, não, não funciona como romance também. O casal principal é tão insosso quanto o próprio enredo, com um slow burn que não desperta expectativa nenhuma e interações que carecem de química real. Tudo soa previsível e recheado de clichês, com declarações grandiosas e frases que causam vergonha alheia, como o clássico “você é minha”.

Alguns momentos, principalmente mais próximos do fim da guerra, quando as coisas já estão num nível de tensão realmente elevado, até são interessantes. O medo que eles têm de perder um ao outro, já que estão, tecnicamente, em lados opostos da guerra e não podem estar juntos em momentos críticos, é de fato tocante. A angústia para se verem e se certificarem de que o outro está vivo e sem ferimentos dá certa emoção à história. Mas nem de longe é o suficiente para deixar a leitura menos cansativa.

E se o romance não convence, a estrutura da narrativa também não ajuda. O livro é dividido em três partes. A primeira parte já no pós-guerra, quando Helena desperta sem partes importantes de sua memória e é enviada para Kaine, para que ele possa descobrir o que ela reprimiu. A segunda parte é a maior e conta o que aconteceu na guerra, ou seja, trata-se de um flashback, que vai contar tudo que aconteceu para chegarmos no ponto em que a história iniciou. A terceira parte é o que acontece depois. Ou seja, é como se a ordem cronologica fosse: parte 2, parte 1 e parte 3.

A primeira parte é bem confusa e cansativa, pois é onde SenLinYu explica seu universo e estabelece as regras e o sistema de magia. A segunda parte é repetitiva e desnecessariamente longa, já que a gente já sabe qual vai ser o desfecho. A terceira parte tinha tudo pra ser a mais interessante, mas eu já estava tão cansada que só queria que acabasse logo. É muito triste terminar um livro e pensar “finalmente acabou!”, mas, infelizmente, foi exatamente assim que me senti.

Antes mesmo de sua publicação, as pessoas já falavam sobre como era um livro emocionalmente denso, com cenas pesadas e gráficas e cheio de gatilhos. Eu não sou muito impressionável quando se trata de leitura e, particularmente, não achei tão pesado. Também vi alguns fãs da fanfic dizendo que SenLinYu suavizou esses aspectos para o livro original, então provavelmente tenha sido isso. A cena que, na minha opnião, poderia ter sido a mais pesada, pois envolve violência sexual, é descrita de uma forma tão confusa que não sei se teve realmente o efeito desejado. Fora que SenLinYu se esforça muito para suavizar tudo que Kaine faz, até as coisas mais atrozes. É evidente que elu queria que não o víssemos como vilão, mas apenas como alguém forçado a se fingir de mau.

A Debs Costa do @plotpersuits falou algo que eu concordo plenamente: no processo de leitura de Alchemised, o leitor precisará preencher lacunas com aquilo que ele previamente sabe porque ele leu/assistiu Harry Potter. Isso acontece em vários momentos do livro. Há muitas lacunas e a gente só consegue preenche-las quando relacionamos com o universo de Harry Potter. A pergunta que fica é: Alchemised deixou mesmo de ser uma fanfic? A resposta, obviamente, é não. Porque, se tivesse deixado, conseguiria existir e se sustentar sem que o leitor precisasse ficar resgatando o universo de Harry Potter para compreender o livro.

Sobre os personagens, é até difícil pensar em algo relevante para dizer. Luc, que seria o Harry Potter, é quase que completamente irrelevante para a história. Como líder de uma resistência é até estranho como tudo acontece sem ele saber ou estar presente. Sendo um livro de guerra, era de se esperar que houvesse muitas mortes ao longo da história. E até há, mas é triste dizer que eu não senti nada. Não me afeiçoei a nenhum personagem. Livros muito menores conseguem criar conexão entre leitor e personagens, e esse, com quase mil páginas, não conseguiu. A única personagem de quem eu gostei foi Helena, mas me incomoda o tanto que dizem que ela é inteligente e eu quase não consegui ver essa inteligência. O livro todo é ela sendo a última a saber, a última a entender e a última a descobrir. Hermione é inteligente; Helena é uma songa monga (mas ela é legal 👍🏻).

No fim das contas, Alchemised foi decepcionante. Eu estava curiosa e empolgada com a leitura e me esforcei para gostar, mas não teve jeito. Os furos na história, a extenção desnecessaria e o romance xoxo não conseguiram me manter investida. Entendo o apelo da obra como fenômeno, especialmente para quem acompanhou a fanfic e tem uma conexão afetiva com ela. Mas, isoladamente, Alchemised não se sustenta como romance original. É um daqueles casos em que o entusiasmo dos leitores e o hype acabam sendo mais interessantes do que o livro em si. Inclusive, vi fãs da fanfic criticando também, então acredito que esse processo de transformar a fanfic em obra original realmente desgastou a história e a fez perder qualidade.

O resultado é uma história que tenta ser épica e intensa, mas acaba sendo apenas longa e cansativa. Há uma ambição visível, mas pouca coerência, e a magia, tanto literal quanto emocional, simplesmente não acontece.

Título Original: Alchemised ✦ Autore: SenLinYu ✦ Páginas: 960
 Tradução: Helen Pandolfi, Laura Pohl, Sofia Soter e Ulisses Teixeira ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com editora

14 de outubro de 2025

Katábasis, nova fantasia dark academia de R. F. Kuang, é um "passeio" pelo Inferno

Um dos lançamentos mais aguardados do ano, de uma das autoras mais elogiadas dessa geração, chegou. Eu estava ansiosíssima para ler Katábasis e para vir dar a minha opinião pra vocês. Kuang já é conhecida pela escrita envolvente, pelas histórias complexas e por suas críticas ferozes e, com Katábasis, ela prometeu mais uma história no estilo dark academia, só que, dessa vez, o cenário é o inferno. E eu, como uma apaixonada por A Dívina Comédia de Dante Alighieri, fiquei imediatamente animada.

22 de setembro de 2025

As Crônicas de Âmbar, de Roger Zelazny: um verdadeiro clássico ou só mais uma fantasia mediana?

Eu nunca tinha ouvido falar em As Crônicas de Âmbar antes, mas fiquei imediatamente interessada quando vi esse lançamento da Intrínseca. Se trata de uma saga contendo um total de 10 livros. Nesse primeiro tomo, a editora reuniu os 5 primeiros volumes da série numa edição lindíssima de 736 páginas. O autor, Roger Zelazny, foi um poeta e escritor norte-americano ganhador do Prêmio Nebula e do Prêmio Hugo, o que o classifica como um importante escritor de fantasia e ficção cientifica. As Crônicas de Âmbar é considerada uma das obras de fantasia mais originais de todos os tempos.

E, realmente, o enredo é muito original. O livro começa com Corwin acordando em um hospital, machucado e sem memórias. Ele consegue sair e vai, aos poucos, recuperando as informações sobre si mesmo. Esse recurso do narrador sem memória é interessante, pois permite que o leitor vá coletando informações junto com o personagem, mantendo um ritmo agradável.

Descobrimos que Corwin é, na verdade, um dos nove príncipes de uma terra chamada Âmbar. O sistema de magia é interessante: Âmbar é o único local verdadeiro, enquanto todas as outras terras, incluindo a nossa Terra, são apenas Sombras, moldadas pela família real. Parece complexo, mas no livro isso fica bem mais prático e compreensível.

O rei, pai de Corwin, desapareceu e agora os príncipes estão brigando pelo trono, principalmente Corwin e Eric. A saga narra a jornada de Corwin reivindicando a coroa, o que incluirá guerras, muitos conflitos entre irmãos, criaturas fantásticas e diferentes universos.

Minha experiência com essa saga não foi tão boa quanto eu gostaria. Minha primeira impressão foi que o livro parecia uma fanfic. Eu amo fanfic, não me entendam mal, mas uma fanfic é um livro escrito de forma independente. Sabe aquele trabalho que o editor faz de dizer para o autor: "melhore esse diálogo" ou "desenvolva melhor esse capítulo"? Parece que aqui não teve. Se fosse pra resumir em uma palavra, o livro me pareceu amador.

Os diálogos são especialmente amadores. Por exemplo:

Eu ia descobrir, e alguém ia pagar por isso. E ia pagar muito, muito caro.

— Vou derrotar você, Eric — declarei. — Estou mais forte do que antes, e você já era, irmão.

Era para o personagem parecer forte e durão, mas eu não conseguia levar a sério. Eu só consigo imaginar um adolescente nos anos 90 dizendo coisas como "pagar caro" e "você já era"

As cenas de batalha são um tédio. Parece um relatório militar, com número de mortos, número de feridos, número de doentes, número, número, número... Sobre os personagens: é no mínimo improvável se afeiçoar a qualquer personagem, mesmo ao protagonista. Todos têm a personalidade de uma batata.

Certo... Já reclamei bastante. As Crônicas de Âmbar, pra mim, entram no clássico "premissa boa, desenvolvimento ruim". Mas também teve coisas positivas: o background histórico é bem legal e o personagem conta sobre seus anos na Terra e destaca importantes momentos históricos.

A partir do segundo volume, o Universo se expande mais, com novas criaturas e ameaças. O conflito deixa de ser apenas a briguinha infantil de irmão X irmão e a história fica realmente mais interessante. As novas ameaças deixam a trama mais complexa, principalmente a partir do terceiro volume, quando o livro ganha um tom investigativo e político.

O terceiro volume eleva o nível da saga, desenvolvendo melhor os personagens, inserindo intrigas e manipulações e mostrando a inteligência e a desconfiança mútua entre os irmãos. A linguagem continua com aquele tom amador do primeiro livro, mas o enredo mais elaborado compensa um pouco. A história consegue surpreender principalmente porque os personagens são inteligentes, manipuladores, perversos e imprevisíveis. Nada que tenha feito eu me afeiçoar a ninguém, mas pelo menos os personagens se mostram mais interessantes, principalmente após o terceiro volume. E não vou mentir: tem uns plot twists legais.

O quinto volume também me surpreendeu, mas em outro aspecto: a linguagem melhora. Talvez porque esse volume seja mais introspectivo, até com um toque filosófico. No geral, eu não amei, mas valeu a pena insistir e chegar ao fim desse primeiro tomo. Como alguém que gosta das lendas arturianas, eu adorei as referências e foi divertido perceber que o autor também parece ser um grande fã das histórias da Távola Redonda.

Eu adoro histórias com criaturas fantásticas, principalmente quando elas são cuidadosamente elaboradas e possuem uma aura misteriosa. Apesar de aqui não terem tantas criaturas, eu gostei das que foram apresentadas, em especial o Unicórnio, que me lembrou as criaturas do universo de Zelda.

Ainda não me decidi se lerei o segundo tomo, mas foi uma experiência interessante, com altos e baixos. O sentimento final é agridoce. E minha conclusão é: eu gostaria de ler essa história escrita pelas mãos de outro escritor, talvez até pelas mãos do amigo de Roger Zelazny, George R. R. Martin.

Título Original: The Chronicles of Amber✦ Autor: Roger Zelazny
Páginas: 736 ✦ Tradução: Leonardo Alves ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com editora
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11 de setembro de 2025

No Meio da Noite, de Riley Sager: um dos melhores thrillers dos últimos tempos


Ai, como é bom amar um livro, né?! E olha que eu não sou uma grande fã de thriller/suspense/mistério. De certa forma, isso até ajuda a explicar porque eu gostei desse livro em específico. Apesar de ser um thriller, No Meio da Noite tem um toque de fantasia e de terror (gêneros que eu gosto bastante). 

A história é a seguinte: em 1994, Billy, um doce menino de apenas 10 anos, desaparece misteriosamente no meio da noite. Na noite em questão, Billy e seu melhor amigo, Ethan, estavam acampando no quintal da casa de Ethan. Quando Ethan acorda na manhã seguinte, seu amigo não está lá e há um grande rasgo na barraca. 

30 anos depois, Ethan está de volta ao seu antigo lar de infância. Com a mudança dos pais para outra cidade e seu recente divorcio, esse retorno parecia a coisa certa a se fazer. Mas estar de volta a casa onde tudo aconteceu intensifica ainda mais o luto. Na verdade, o desaparecimento de seu melhor amigo de infância nunca chegou a ser um assunto superado para Ethan, que já fez muita terapia e continua tendo pesadelos com aquela noite.

Ethan precisa saber o que aconteceu naquela noite e nos levará junto com ele nessa busca por respostas. O livro, então, alterna entre passado e presente, mostrando Ethan nos dias atuais, reencontrando seus amigos e colegas de infância, agora adultos, e mostrando o que aconteceu naquele fatídico 15 de julho.

Eu ameeeeeei cada página desse livro, cada nova descoberta, cada plot twist, cada revelação e cada novo personagem que foi sendo inserido na história. O livro tem um tom sombrio que beira o sobrenatural e, em vários momentos, eu me perguntei se o desfecho teria realmente explicações sobrenaturais.

Uma série não saia da minha cabeça ao longo de toda a leitura: Dark. Se você assistiu Dark e gostou, leia No Meio da Noite. Não apenas o enredo, mas a atmosfera triste e sombria do livro lembram muito a série alemã. Fora que tem crianças e um instituto que faz pesquisas estranhas e secretas. Eu fiquei fascinada com a vibe conspiratória que o livro tem.

Essa não foi a minha primeira experiência com o autor. Dele, eu já tinha lido O Massacre da Família Hope e amado. Mas No Meio da Noite conseguiu ser ainda melhor. Claro que há algumas coisas repetidas, como o tom sobrenatural e a alternância entre passado e presente, mas a fórmula é boa e tão bem executada que eu poderia ler mais 10 livros dele com a mesma fórmula e continuar amando.

Em O Massacre da Família Hope eu acabei tirando uma estrela por conta do desenrolar lento e do final excessivamente mirabolante. Mas, No Meio da Noite não repete nenhum desses erros. Pra mim, o livro tem exatamente o tamanho que deveria. Não enrola, mas consegue desenvolver cada ponto muito bem. E o final foi mais "pé no chão", o que eu tendo a preferir. Enquanto O Massacre da Família Hope foi um livro 4 estrelas, No Meio da Noite é um 5 estrelas e favoritado.

O final é lindo lindo lindo. Cheguei a dar uma lacrimejada. Se fosse pra forçar uma reclamação, eu gostaria de saber mais sobre o tal instituto. Se o autor escrevesse um spin off só sobre o instituto eu iria correndo ler. Mas não tenho do que reclamar. Uma leitura realmente deliciosa, envolvente, que me fez entrar madrugada a dentro lendo.

O livro fala superficialmente sobre traumas, luto e traz algumas reflexões docemente amargas sobre ser uma criança "estranha" e o peso que isso tem até na vida adulta. Pegue o melhor de Stephen King, junte com a atmosfera sombria de Dark e uma pitada de Freida McFadden e você terá No Meio da Noite. RECOMENDO!!!

Título Original: Middle of the Night ✦ Autor: Riley Sager
Páginas: 368 ✦ Tradução: Renato Marques ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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