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12 de agosto de 2025
Manual das Donas de Casa Caçadoras de Vampiros, de Grady Hendrix, vale o hype?
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4 de agosto de 2025
Querida Tia: mais um hit da Valérie Perrin?
"2010 é o ano em que minha tia morreu pela segunda vez." declara Agnès, nossa narradora, uma mulher jovem, bem-sucedida, diretora de cinema, mãe, divorciada, que recebe uma estranha ligação a informando sobre o falecimento de sua tia. O problema? A tia de Agnès já havia morrido 3 anos antes. Ou era isso que Agnès achava.
Querida Tia é um romance envolvente que mescla mistério, drama e relações familiares complexas. Foi meu primeiro contato com Valérie Perrin, que já acumula fãs por conta de seus romances anteriores: Água Fresca Para as Flores e Três. Por tudo que eu já tinha ouvido falar, eu já sabia o que esperar: dramas longos e bem detalhados que exploram relações humanas de forma íntima e perspicaz.
E foi realmente isso que eu encontrei: uma narrativa intimista e detalhista que não deixa de lado nenhum personagem. Perrin cria personagens completos: cada um tem personalidade própria, questões pessoais e integridade narrativa.
Nossa narradora, Agnès, lida com o recente divórcio enquanto tenta superar um bloqueio criativo e, pra completar, descobre que a sua tia misteriosa e soturna acaba de morrer... de novo. Agnès sempre achou que Colette era uma mulher de pouca profundidade. Obcecada por futebol, sem marido e sem filhos, a tia Colette era apenas a tia calada que Agnès via todos os anos nas férias.
A pergunta que não quer calar é: Por que Colette fingiu a própria morte? Por que deixou Agnès acreditar que ela estava morta? Por que viveu 3 anos de forma "secreta"? E o que fez nesses 3 anos? Para surpresa de Agnès, quem vai responder essas e outras perguntas é a própria Colette, que gravou mais de 12 mil minutos de fita, guardou numa mala e deixou para Agnès. Quase um diário gravado em voz.
O livro alterna entre o passado de Colette e o presente de Agnès. Ambas as perspectivas foram interessantes. Agnès encontra-se num momento delicado, tentando superar o ex-marido enquanto ouve as fitas da tia e se reencontra com pessoas de seu passado. Porém, não posso negar que conhecer a história da tia Colette foi magnífico. Suas gravações revelam uma mulher complexa e cheia de segredos, marcada por escolhas difíceis, e cuja vida foi entrelaçada por momentos de rebeldia, dor e amor.
A relação de Colette com seu irmão, Jean (o pai de Agnès), é tão doce e cheia de amor que transborda afeto. Colette precisou ser adulta muita cedo, enfrentou pobreza, preconceito e cobranças desproporcionais para a sua idade e fez de tudo para garantir que o irmão pudesse desenvolver seu dom para música.
Mas talvez a personagem mais enigmática desse livro não seja Colette, mas sim Blanche. Não vou entrar em detalhes sobre quem é ela, porque acho que essa é uma das surpresas mais gratificantes desse romance, mas preparem-se para muito mistério, ternura e segredos.
O enredo se desenvolve à medida que Agnès escuta cada fita, revelando segredos de família, episódios dolorosos e verdades encobertas por décadas. A escrita é sensível e a narrativa cria uma sensação constante de descoberta e reconstrução.
Tive algumas oscilações com essa leitura, entre momentos de profundo interesse e momentos de me sentir ligeiramente desconectada da história. Por se tratar de um livro longo, com quase 500 páginas, há alguns capítulos que não me interessaram tanto e eu ficava só desejando que a história voltasse logo para as partes realmente interessantes. Mas, mesmo com essas passagens não tão interessantes (para mim), essa leitura me manteve engajada, principalmente pelo desejo de saber mais sobre a vida de Colette e o que a motivou a fazer o que fez. E o final, realmente, valeu a pena.
Valérie Perrin é, de fato, uma grande contadora de histórias. Sua escrita é profunda e poética e ela mergulha nas histórias, nos personagens e nas relações. As quase 500 páginas de Querida Tia se justificam pelo aprofundamento da história. Cada situação tem início, meio e fim e cada personagem tem personalidade, passado e complexidade. Tudo muito completinho e redondinho.
Por fim, só queria enaltecer a edição da Intrínseca, que está perfeitaaaa. Sabe aquele problema de livros grossos que, para conseguir ler confortavelmente, você acaba tendo que quebrar a lombada? Bom, aqui isso não acontece: o livro abre completamente, é maleável e a diagramação é ótima.
31 de julho de 2025
Dias Perfeitos e os enredos super saturados de Raphael Montes
Recentemente, a editora Companhia das Letras publicou uma "edição de colecionador" de Dias Perfeitos, segundo romance do Raphael Montes e um dos maiores responsáveis pelo sucesso estrondoso do autor, dentro e fora do Brasil. Já li alguns livros do Raphael e aproveitei o relançamento para ler este que eu ainda não tinha lido.
Apesar de não ser uma super fã, eu leio os livros do Raphael Montes, porque geralmente são leituras rápidas e envolventes que despertam curiosidade e surpreendem com os plot twists e as passagens perturbadoras.
A sinopse de Dias Perfeitos não é inovadora. Na verdade, ela já foi bastante explorada em muitas outras histórias. A principal delas: o livro O Colecionador, de John Fowles, publicado em 1963. Confesso que as semelhanças me deixaram até intrigada e me levaram a fazer uma pesquisa rápida na Internet. De fato, encontrei diversas outras pessoas apontando para as semelhanças entre o clássico do suspense de 1963 (que ganhou até uma adaptação em 1965) e o livro do brasileiro.
Polêmicas à parte, vamos à resenha: Dias Perfeitos retrata um jovem estudante de medicina, excêntrico e deficiente em habilidades sociais, que conhece uma jovem vivaz, alegre e descolada, e acaba desenvolvendo uma paixão obsessão por ela. Movido pelo desejo de tê-la só para si, Téo sequestra Clarice com o objetivo de fazê-la se apaixonar por ele. Daí em diante acompanhados os tais "dias perfeitos" que se sucedem.
O estilo Raphael Montes está presente ao longo de todo o texto: muitas atrocidades são cometidas e muitas minorias são atacadas. As falas capacitistas do Téo são frequentes e, em certo ponto, me fizeram revirar o olho e dizer mentalmente: "Ta bom, Raphael, a gente já entendeu que todos os seus personagens são detestáveis e preconceituosos e esse é o seu jeito de chocar o leitor".
Não sei se o autor continua repetindo essa fórmula em seus lançamentos mais recentes, mas vi isso acontecer em O Vilarejo, em Suicidas e em Jantar Secreto e comecei a achar um pouco cansativo.
Como eu já esperava: foi uma leitura bem rápida. Li praticamente inteiro num único dia, principalmente porque eu estava curiosa pra saber o final (e se seria diferente do final de O Colecionador, já que, até certo ponto, estava tudo igual). Tem uma reviravolta perto do fim que eu amei e me fez pensar: "Uau, se o final for por esse caminho eu vou amar". Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Resumindo: eu não gostei do desfecho.
Aí veio a surpresa: essa edição traz um final alternativo. Minhas esperanças se renovaram e eu fui ler esperando que esse final fosse o final que eu queria. Não era! kkkkk' O final alternativo é bastante bizarro, mas interessante e coerente com o restante do livro (mas ainda prefiro o final que eu tinha em mente kkkk').
Uma curiosidade legal é que há uma sutil referência à Suicidas, primeiro romance de Montes, no final do livro. Saquei na hora e achei divertido encontrar esse easter egg.
Não foi uma leitura ruim, mas, após ler quatro livros do Raphael Montes, me encontro um pouco saturada. Sinto que a intenção de "chocar a qualquer custo" foi se desgastando e não é mais o suficiente (nunca foi?) para garantir uma boa história. Penso em algumas problemáticas de seus livros, mas nem sei se vale a pena mencionar porque deve fazer parte da fórmula, mas...
Por exemplo: as mulheres de suas histórias são sempre subjugadas, diminuídas, nunca saem por cima em nada e, frequentemente, são estupradas. Mais uma estratégia para chocar ou apenas uma falha na forma como Raphael cria e desenvolve suas personagens femininas? Porque, a impressão que fica é a de que todas as mulheres das suas histórias só estão ali para serem objetos de desejo de seus personagens masculinos (isso acontece em Dias Perfeitos, em Jantar Secreto, em Suicidas e em O Vilarejo).
No geral, eu gosto de histórias bizarras e perturbadoras. Mas acho que elas precisam ser mais do que apenas bizarras e perturbadoras e que não vale tudo pra torná-las bizarras e perturbadoras. Stephen King sabe bem disso depois de tentar chocar com o final de It e ser fortemente criticado.
Não me vejo lendo mais nenhum livro do Raphel Montes no futuro, a menos que alguém me garanta que a fórmula evoluiu. Porque se eu quiser ver mulheres sendo estupradas, pessoas sofrendo gordofobia, homofobia e capacitismo e homens brancos vencendo eu ligo a TV e assisto ao jornal.
Pra ser justa, não quero finalizar essa resenha sem elogiar essa nova edição, que está realmente impecável. Todos os detalhes foram bem pensados. A ilustração da capa, com uma mala de viagem rosa, e a pintura trilateral também rosa fazem alusão à mala de Clarice e dão um toque especial para a edição, que também conta com alguns conteúdos extras que enriquecem a leitura. Pra quem é fã vale muito a pena.
22 de julho de 2025
Fobia, de Katsunori Hara & Yukiko Goto: um mangá de terror gráfico e perturbador
Fobia é um mangá que contém 5 histórias curtas que retratam diferentes pessoas com diferentes fobias. O primeiro conto se chama Frestas e mostra uma garota com fobia de frestas, como portas entreabertas, bolsas, a fresta do ar condicionado e até as frestas entre pisos. Foi uma ótima história para abrir essa coletânea de contos: bastante gráfica, perturbadora e horripilante. Quem diria que uma história sobre frestas poderia render um final tão chocante?
Duas coisas ficam claras logo nesse primeiro conto: são histórias de terror gráfico e não são indicadas para menores de idade, pois há cenas bem explicitas de sexo.
O segundo conto, denominado Cheiros, retrata outra garota, dessa vez com uma preocupação excessiva e irracional de estar fedendo, principalmente quando na companhia de seu namorado. O final consegue ser tão perturbador quanto o final do primeiro conto, além de ser igualmente gráfico.
Depois que eu peguei o ritmo e entendi o tom dos contos, a leitura fluiu rapidamente. Eu ficava curiosa pra saber qual bizarrice eu encontraria na próxima história e se seria capaz de superar a anterior.
O terceiro conto, Altura, mostra um homem bem-sucedido que está traindo sua mulher com uma garota que tem medo de altura. Inexplicavelmente, o homem começa a sentir um medo absurdo de altura depois que a garota conta pra ele sobre seu medo, como se fosse contagioso. Dentre todos os contos, esse foi o menos perturbador.
Agrupamentos é o nome do quarto conto. Nesse, vemos o surgimento da fobia após uma situação traumática que uma jovem vive ao sair com um garoto que ela conheceu num aplicativo de relacionamentos. Esse conto foi um dos que mais me incomodou, principalmente por envolver uma situação de violência sexual.
O último conto, Lugares Fechados, é uma história de vingança e da fobia que se desenvolve como consequência de ser trancado num lugar pequeno. É interessante, mas não foi a minha preferida. Acho que meus contos preferidos foram os dois primeiros.
Fobia foi uma leitura bem rápida e intrigante. Se você gosta de histórias de terror perturbadoras e inquietantes, esse mangá é perfeito. Eu me surpreendi positivamente com essa leitura, pois gosto desse estilo mais perturbador. E fiquei feliz em saber que esse é o primeiro volume de 3, então em breve terei mais dessas histórias para conhecer.
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14 de julho de 2025
Os livros da Jenna Levine são a prova de que vampiros nunca saem de moda
No início do ano passado, a Intrínseca publicou Morando Com um Vampiro, o romance de estreia de Jenna Levine. Nele, acompanhamos Cassie Greenberg, uma pintora que simplesmente não consegue sobreviver dignamente com o seu ofício, algo que acontece muito com pessoas que trabalham com artes de modo geral. O agravante é que Cassie está prestes a ser despejada de novo e precisa urgentemente encontrar um lugar bem baratinho até conseguir equilibrar as finanças.
É aí que Frederick J. Fitzwilliam entra na história, um carinha bastante antiquado que oferece um quarto em seu apartamento por uma pechincha. Mesmo com toda a esquisitice de Frederick, Cassie está tão falida que não vê outra alternativa a não ser aceitar morar com esse querido que parece ter vivido no século passado. Como o próprio título já diz, nosso protagonista é um vampiro, e não demora muito para que Cassie descubra essa condição.
A incógnita desse livro é: por que cargas d'água um vampiro rico de mais de 300 anos precisa alugar um quarto em seu apartamento igualmente rico? Isso e os dilemas de Cassie com sua arte incompreendida são as questões que movem a história. Ambos os personagens são muito excêntricos, cada um a sua maneira, e se completam de uma forma estranhamente divertida, nos presenteando com um romance muito leve e despreocupado.
Na real, toda a atmosfera de Morando Com um Vampiro é leve e despreocupada. Não existe um grande dilema, muito menos uma reviravolta, mas eu me diverti tanto e a química entre Frederick e Cassie é tão boa que foi impossível não me apaixonar e sentir aquela nostalgia gostosa, sabem? Inclusive, para um livro bobinho de comédia romântica, a autora não poupou detalhes nas cenas picantes, fica aí o aviso — e que fique claro que eu amo/sou.
A única coisa que me desagradou um tantinho nesse livro foi o final, corrido e com uma resolução bem besta, para ser sincera. É claro que passou longe de estragar minha experiência, principalmente porque os personagens compensam tudo. Inclusive, o meu preferido foi o Reginald, o pior melhor amigo de Frederick. Ele é muito arrogante, prepotente e parece se deliciar irritando as pessoas e colocando elas nas maiores enrascadas possíveis. Parece meio controverso gostar de um personagem assim, mas é que ele é muito sem noção e engraçado, vocês nem imaginam.
É exatamente por isso que eu amei muito mais Namorando Com um Vampiro, a sequência indireta de Morando Com um Vampiro. Nesse segundo volume, além do protagonista ser Reginald, tem um dos enredos de comédias românticas que eu mais amo, o namoro de mentira. Amelia Collins é uma contadora de sucesso e está muito bem assim, obrigada, mas não aguenta mais a família inteira no seu pé para que ela arrume um namorado. Quando ela é convidada para o casamento de uma prima distante, Amelia resolve levar um acompanhante para se passar por seu namorado durante o evento. Reginald é o ser perfeito para isso, afinal, além de tudo o que eu disse sobre ele anteriormente, não tem senso nenhum de moda e estética, tudo o que Amelia precisava.
O grande "problema" é: Reginald é adorável, no fim das contas. Ele também tem suas próprias questões — que vão ao encontro da mocinha em determinado momento da história — e vai se beneficiar com o relacionamento de fachada, mas acaba se apegando à Amelia muito rapidamente. Eu adorei a construção do relacionamento deles, principalmente porque Amelia não tinha expectativa nenhuma, mesmo achando Reggie muito bonito. O melhor de tudo pra mim foi constatar que Reginald faz de tudo por ela e sem esperar nada em troca, mesmo antes de perceber que estava apaixonado. Muito fofinhos.
Novamente, a única coisa que me decepcionou foi o final. O clímax, que em teoria seria a resolução do problemão que Reginald arrumou, é muitíssimo raso. Soluções bobas para problemas pouco desenvolvidos. A sensação que eu tenho é que a autora acaba se perdendo com os detalhes do romance e não consegue amarrar direitinho quaisquer outros confilhos que insere na trama. E já que estamos falando de romance, achei os hots muito mais explícitos nesse livro, fiquei até envergonhada, risos.
E pra quem gosta de crossover, é obvio que Frederick e Cassie dão as caras em Namorando Com um Vampiro. Temos até uns vislumbres de como anda o relacionamento e do que podemos esperar para o futuro deles. E aí, será que Cassie vai aceitar viver com Frederick para toda a eternidade?
Fato é: histórias com vampiros nunca ficam fora de moda, simplesmente porque que agradam a todos os públicos, dos fãs de um bom terror sobrenatural às farofeiras como eu. Outro exemplo muito legal é o Noiva, da Ali Hazelwood, que causou o maior auê na comunidade literária, o que só prova a minha teoria de que nunca nos enjoaremos dos nossos amados vampiros. Enfim, Jenna Levine acertou demais ao criar seus vampiros disfuncionais, espero que ela escreva mais livros do gênero. Aliás, Road Trip With a Vampire, o terceiro volume dessa seleção, já está em pré-venda na gringa, e vai ter uma bruxa protagonista — e a gente bem sabe que bruxas e vampiros não se relacionam muito bem, né? Intrínseca, faz a boa e traz pra nós, não vejo a hora de ler!