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9 de junho de 2025

Romantasia: a nova obsessão da comunidade literária


Romantasia, como o próprio nome indica, é a fusão entre romance e fantasia. Essa junção é crucial para a narrativa. Não se trata apenas de adicionar amor a uma história fantástica, mas de integrar os elementos de ambos, criando um subgênero que oferece o melhor de dois mundos. Leitores se perdem em universos mágicos, acompanhando histórias de amor profundas e complexas, tornando a leitura única e envolvente.

Embora a mistura de amor e sobrenatural não seja nova, a popularização e formalização da romantasia como gênero distinto são fenômenos recentes. Isso foi impulsionado por comunidades de leitores online e pela demanda por narrativas que ofereçam escapismo e emoção — muitas vezes figurando entre os melhores livros de fantasia para você ler quando o assunto é literatura envolvente e cativante. O gênero se consolidou com características e expectativas bem definidas.

Assim, é crucial diferenciar a romantasia da "fantasia romântica". Na fantasia romântica, o foco principal é a fantasia, com o romance secundário. Na romantasia, romance e fantasia compartilham o protagonismo, desenvolvidos com igual profundidade. A remoção de um comprometeria a história, pois ambos os pilares são interdependentes. 

A ascensão da romantasia

A romantasia reside na capacidade de oferecer uma fuga da realidade para mundos fantásticos, ao mesmo tempo em que satisfaz o desejo por narrativas focadas em relacionamentos e emoções humanas. Essa combinação única de elementos permite que os leitores se conectem com personagens complexos e torçam por seus desfechos românticos em cenários extraordinários, tornando o gênero altamente atrativo.


O sucesso da romantasia é impulsionado por fatores como as redes sociais, especialmente TikTok (BookTok) e Instagram. Essas plataformas divulgam e recomendam livros, criando comunidades de fãs que compartilham leituras e entusiasmo. A facilidade de acesso a informações e a formação de grupos de discussão online aumentam a visibilidade de novas obras e autores.

Embora estatísticas de vendas globais específicas sejam difíceis de isolar, a constante menção em artigos e o sucesso de títulos indicam a força da romantasia no mercado editorial. Especialistas preveem crescimento contínuo em 2025, solidificando o gênero como um dos mais vendidos e influentes. A demanda por histórias que equilibram aventura fantástica com paixão e romance continua a impulsionar a produção e o consumo de obras de romantasia, garantindo sua relevância.

Elementos essenciais da romantasia

As histórias se passam em universos com sistemas de magia complexos, criaturas fantásticas, diferentes raças e geografias elaboradas. Este cenário detalhado não é apenas um pano de fundo, mas interage diretamente com a trama romântica e as jornadas dos personagens. As regras da magia, dinâmicas políticas ou ameaças sobrenaturais podem criar obstáculos ou fornecer meios para o relacionamento florescer em meio ao perigo e à aventura. O desenvolvimento de personagens é crucial, com foco nos protagonistas do romance. Os leitores torcem por eles, acompanhando suas lutas, crescimento pessoal e jornada romântica.

Arquétipos comuns incluem heróis relutantes, heroínas fortes, vilões complexos ou figuras misteriosas. A química entre o casal, seus diálogos, conflitos e a evolução do relacionamento são centrais, prendendo a atenção do leitor e tornando o aspecto romântico tão vital quanto a trama de fantasia. A interligação entre o enredo romântico e a trama de fantasia é a essência da romantasia, está intrinsecamente ligado aos eventos fantásticos. O destino do mundo pode depender do sucesso do relacionamento dos protagonistas, ou desafios mágicos podem ser superados pela força de seu vínculo.

Exemplos notáveis e autores de destaque

A romantasia é impulsionada por obras de sucesso que se tornaram referências. Quarta Asa (Fourth Wing) de Rebecca Yarros exemplifica a força do gênero, combinando fantasia envolvente com romance intenso. Corte de Espinhos e Rosas (ACOTAR) de Sarah J. Maas é outro pilar, com rica construção de mundo e personagens complexos que se apaixonam em meio a conflitos épicos.

Além de Yarros e Maas, autores como Jennifer L. Armentrout, com De Sangue e Cinzas, Rachel Gillig e seu maravilhoso Uma Janela Sombria e Rebecca Ross com o sucesso Divinos Rivais, destacam-se. Suas narrativas misturam romance proibido, criaturas sobrenaturais e intrigas políticas. Essas autoras criam mundos imersivos e personagens que ressoam com os leitores, garantindo que o elemento romântico seja tão empolgante quanto as aventuras fantásticas.


O impacto cultural da romantasia é inegável, influenciando o mercado editorial e a cultura pop. O sucesso de vendas e a paixão dos fãs geram discussões sobre adaptações para TV ou cinema, ampliando o alcance das histórias. Além disso, a romantasia é um terreno fértil para a criatividade, inspirando fanarts, fanfics e possui uma comunidade literária muito engajada, solidificando seu lugar como fenômeno cultural relevante.

O futuro da romantasia

O futuro da romantasia é promissor, com o gênero evoluindo e se diversificando. Autores exploram essa fusão, e novas abordagens narrativas surgem. Podemos esperar histórias com elementos de mistério, suspense ou ficção científica, mantendo o equilíbrio entre romance e fantasia. Essa capacidade de adaptação e inovação garante que o gênero continue relevante e atraente para um público, ávido por narrativas emocionantes que desafiem as convenções.

O papel da romantasia na literatura contemporânea é cada vez mais significativo. Longe de ser uma moda, o gênero aborda temas complexos através de suas lentes. Questões de identidade, poder, escolha, sacrifício e a natureza do amor são exploradas em profundidade em mundos onde magia e perigo são reais. A romantasia oferece uma plataforma única para discutir a condição humana e os relacionamentos em contextos extraordinários, provando que histórias populares podem ser divertidas e instigantes.

A paixão de sua base de fãs, a proliferação de novas vozes e a contínua exploração de suas possibilidades narrativas indicam que o gênero continuará a encantar leitores. Seja em sagas épicas com romances proibidos ou histórias intimistas em reinos encantados, a romantasia oferece uma rica tapeçaria de narrativas que celebram a imaginação, a emoção e a poderosa conexão entre os seres.

Conclusão

A ascensão meteórica da romantasia, impulsionada por comunidades online e o apelo por escapismo e aventura, reflete uma demanda crescente por histórias que ofereçam tanto a emoção de um grande amor quanto a maravilha de mundos inexplorados. Os elementos essenciais, do worldbuilding ao desenvolvimento de personagens e a interligação intrínseca entre romance e fantasia, são a base de seu sucesso.

O impacto e a relevância da romantasia na literatura contemporânea são inegáveis. Obras de autores como Jennifer L. Armentrout e Sarah J. Maas definiram o gênero e abriram portas para novos escritores e leitores. A romantasia provou ser mais que uma tendência, oferecendo um espaço para explorar temas universais em contextos fantásticos e promovendo uma comunidade global de fãs.

3 de junho de 2025

Casas Estranhas, um sucesso do misterioso autor japonês Uketsu


Se você gosta de livros de terror e mistério, talvez já tenha ouvido falar em Uketsu, um dos maiores autores de horror do Japão, que também é YouTuber. Uketsu desperta curiosidade entre os leitores, principalmente porque ninguém sabe quem ele é, já que ele sempre aparece com roupas pretas, uma máscara branca e usa efeito para distorcer a voz.

Um de seus maiores sucessos é seu primeiro livro, Casas Estranhas, que chega ao Brasil pela Intrínseca e que eu tive o prazer de ler. A primeira coisa que posso dizer é que foi uma leitura muito rápida. Eu comecei e terminei no mesmo dia. A história contada pelo autor é pontual, com começo, meio e fim e sem contextualizações desnecessárias ou digressões. A gente não sabe praticamente nada sobre os personagens: eles são apenas meios para contar a história que o autor quer contar.

E qual seria essa história? Em Casas Estranhas, um escritor com forte interesse em temas ocultos e um especialista em arquitetura analisam a planta de uma estranha casa. Entre as peculiaridades dessa residência estão: um pequeno espaço entre um cômodo e outro e um quarto infantil sem janelas que só pode ser acessado através do quarto dos pais e só depois de passar por duas portas.

O que essas peculiaridades revelam sobre a casa e sobre seus habitantes? Por que a criança parece estar escondida em um quarto sem janelas? O que realmente há naquele espaço misterioso entre cômodos? É isso que o escritor e o arquiteto tentam investigar e entender, ao maior estilo Sherlock Holmes: com deduções perspicazes e que beiram a adivinhação.

A maior parte do livro são diálogos e isso tornou a leitura muito rápida. Eu me senti sentada na mesa de um café com os personagens, ouvindo eles criarem teorias malucas que explicassem a estranheza das casas e ficando boquiaberta a cada vez que uma teoria insana se mostrava verdadeira.

Eu adorei a fluidez da leitura e a agilidade com que o autor conduz a história, sem enrolações e sem falsas pistas. Bem diferente dos suspenses convencionais onde, a cada página, tudo muda: quem parecia mocinho vira vilão e a gente fica desconfiado até da própria sombra. Se você curte histórias mais lineares, que não ficam tentando te fazer de besta, você vai amar.

Eu confesso que fui esperando um pouco mais de terror, com elementos um pouco mais sobrenaturais. Mas não é bem isso. Então se você não gosta de sentir medo e levar susto, fique tranquilo. Casas Estranhas é aquele tipo de horror que incomoda e gera estranheza, mesmo que a gente não entenda bem o porquê, e não o tipo de horror que dá medo.

A edição da Intrínseca está lindíssima. O livro é todo ilustrado com plantas de casa e uma coisa que eu gostei é que a planta de uma mesma casa reaparece sempre que os personagens estão falando sobre ela. Ou seja, você não vai precisar ficar voltando as páginas a cada vez que um personagem falar sobre algum aspecto da casa (igual mapa em começo de livro). Tem até uma parte da história em que os personagens estão riscando a planta e fazendo modificações e, a cada modificação, a planta reaparece com a alteração, tornando tudo muito fácil de visualizar.

A leitura é realmente rápida, até porque o livro ter cerca de 170 páginas. Gostei e fiquei com vontade de ler mais coisas do autor.

Título Original: Henna Ie ✦ Autor: Uketsu
Páginas: 176 ✦ Tradução: Jefferson José Teixeira ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

9 de maio de 2025

Tudo que eu aprendi atendendo mulheres ansiosas

Oii meninas. Tudo bem?

Eu me chamo Priscila Gatti, sou psicóloga e resenhista aqui do blog desde 2017. Se vocês acompanham o bloguinho, vocês já devem ter visto algumas resenhas minhas por aqui. Inclusive, já resenhei alguns livros de Psicologia.

Mas hoje eu vim divulgar o meu livro. Eu acabei de lançar um e-book onde eu compartilho tudo que eu aprendi atendendo mulheres ansiosas ao longo de 8 anos de Psicologia Clínica. Eu sou uma mulher ansiosa que atende mulheres ansiosas e, ao longo dos anos, aprendi muito sobre a nossa ansiedade.

Você já se sentiu sobrecarregada mesmo quando tudo parecia “em ordem”? Já teve a sensação de que, não importa o quanto se esforce, nunca é suficiente? Já percebeu que sua mente parece nunca parar, como se estivesse sempre tentando antecipar problemas, resolver pendências, agradar todo mundo? Já se sentiu travada frente a tantas demandas e preocupações? Ou já sentiu dificuldade em ficar parada tamanha inquietação causada pela ansiedade?

Tudo isso pode ser ansiedade, em diferentes formas de manifestação. Porque ansiedade não é só aquele nervosismo antes de uma prova ou reunião importante.

E vocês sabiam que mulheres tem quase o dobro de chance de desenvolver transtornos de ansiedade em relação aos homens? No meu e-book, eu exploro os porquês disso, incluindo causas como: pressão social e estética, violência de gênero, jornada dupla, entre outros fatores.

Ao longo desses 8 anos atendendo mulheres, eu identifiquei 6 perfis de mulheres ansiosas e, no meu e-book, eu explico cada um desses perfis e proponho técnicas e estratégias para cada tipo. São mais de 40 técnicas.

Se quiserem saber mais ou tiverem interesse em adquirir, me encontrem no Instagram: @psicologapriscilagatti 

Espero vocês lá. 💛

26 de abril de 2025

A Menina e a Pipa (& a salvadora branca), de Laetitia Colombani


Aceitas uma resenha bem problematizadora hoje? Pois é o que teremos. Prontas? Eu poderia resumir A Menina e a Pipa assim: uma professora francesa de luto resolve fazer algo que os europeus ricos adoram: ir para um país considerado de terceiro mundo para "se curar". No processo, ela descobre que pode, com seu dinheiro e seu conhecimento, ajudar os mais necessitados. O que é ótimo, claro, mas ela faz isso ao estilo europeu: se sentindo a pessoa mais incrível e altruísta do mundo.

Mas vamos começar do começo. A tal francesa se chama Léna e ela passou por uma experiência traumática. De início, o leitor não sabe exatamente o que aconteceu, mas entendemos que Léna perdeu o marido. Abalada e buscando se curar e se reconectar consigo mesma, ela decide passar um tempo vivendo no Golfo de Bengala, na Índia.

Um dia, Léna quase se afoga no mar e é salva por uma menina e uma mulher. Mais tarde, Léna descobre que a mulher em questão é a líder de um grupo local que se intitula Brigada Vermelha: um grupo de mulheres que praticam defesa pessoal e cuidam da segurança das mulheres da região. Toda a parte envolvendo a Brigada Vermelha é muito interessante. Se o livro fosse só sobre isso seria ótimo, mas a europeia não ia aceitar não ser o centro das atenções, né?!

Inclusive, a tal Brigada Vermelha existe mesmo e, pelo que pude checar, todas as informações contidas no livro são reais, incluindo a história de sua fundadora, Usha Vishwakarma, que, em 2016, foi reconhecida como uma das 100 mulheres de maior sucesso da Índia pelo Presidente do país. Segue uma explicação impactante apresentada no livro:

Aqui, o estupro é um esporte nacional, declara a chefe. E os criminosos nunca são castigados: as denúncias raramente levam a investigações, menos ainda quando as vítimas são de classes baixas. Diante da inércia das autoridades, as mulheres precisaram se organizar para garantir a própria segurança.

Léna acaba se aproximando dessas mulheres, que são muito mal vistas pelos locais, e da menina, Lalita, que não fala, mas demonstra um profundo interesse por Léna. Aos poucos, Léna percebe que não só Lalita, mas muitas meninas da região são analfabetas.

Bem-vinda à Índia, murmura. Ali, as meninas não estudam, ou se estudam é por pouco tempo. Não se considera útil educá-las. É preferível mantê-las em casa e ocupá-las com tarefas domésticas, antes de casá-las com alguém assim que atinjam a puberdade.

Léna decide mudar essa triste realidade dando aula para as meninas da região: "Em uma noite mais agitada do que as outras, Léna tem uma ideia. Uma ideia singular, surreal. Construir uma escola em Mahabalipuram."

Tudo muito legal, né?! Mulheres unidas, aprendendo a ler, escrever e lutar. No entanto, na versão de Laetitia, esse grupo de mulheres é liderado, organizado e coordenado por uma francesa bondosa. Quero deixar claro que não há nenhum problema na atitude da personagem. Espero que, na vida real, existam muitas Lénas fazendo coisas parecidas. Mas muito me incomoda a prepotência de criar uma personagem europeia e a retratar de forma quase angelical levando educação a crianças indianas tal qual uma grande salvadora branca.

"Salvador Branco" é um termo sarcástico e crítico que define uma pessoa branca que é descrita como libertadora, salvadora ou edificante para as pessoas não-brancas. Muito retratado na mídia, o salvador branco geralmente surge para resgatar pessoas não-brancas de uma situação de violência ou injustiça, normalmente impondo seus valores e vontades de forma vertical. Também é frequente que o salvador branco seja um branco viajando para um local "exótico".

Muitos filmes já foram criticados por retratarem e enaltecerem salvadores brancos. Entre eles: 12 Anos de Escravidão, Django Livre, Diamante de Sangue, Avatar, Duna, Gran Torino, O Último Samurai e A Grande Muralha. Sobre este último, a atriz Constance Wu fez o seguinte comentário"Temos que parar de perpetuar o mito racista de que apenas um homem branco pode salvar o mundo. Não é baseado em fatos reais. Nossos heróis não se parecem com Matt Damon."

Ouso dizer que os heróis indianos também não se parecem com uma professora francesa traumatizada.

No livro, Léna está constantemente dando ordens às outras mulheres, dizendo o que elas devem ou não fazer. Um trecho específico que me incomodou bastante é quando Léna percebe que as meninas faltam às aulas quando estão menstruadas. O livro explica muito brevemente sobre como a menstruação é um tabu na Índia, mas a resolução é basicamente Léna fazendo as meninas prometerem que não faltarão às aulas quando estiverem menstruadas. Ah, ela também faz um discurso sobre a importância de os panos (que as meninas usam para se limpar e para absorver a menstruação) estarem sempre "cuidadosamente" lavados. Isso tudo logo depois de explicar que "No campo, as escolas não têm banheiro; as meninas precisam se afastar e se esconder na mata para fazer o procedimento. Elas têm vergonha e medo de ser descobertas, até agredidas." Ou seja, um problema complexo sendo solucionado de uma forma simples. A Salvadora Branca ataca novamente.

Não vou mentir: eu não acho que o plot de "encontrar a cura ajudando os outros" seja ruim. É de fato muito poético e tocante ver alguém se curando enquanto ajuda outras pessoas. Mas a forma messiânica como isso é feito é profundamente perturbadora e é difícil acreditar que histórias assim continuam sendo escritas. Vejam esse trecho:

As garotas com quem convive não terão nenhuma outra oportunidade de se educar: a escola é a única escapatória possível da prisão invisível na qual a sociedade deseja trancafiá-las. Léna terá que lutar contra essas correntes. Será preciso enfrentar os perigos, opor-se aos adversários com toda a sua inteligência e a sua determinação. O combate promete ser demorado.

A Léna sendo descrita como uma guerreira solitária lutando sozinha contra os costumes milenares de um país "com toda a sua inteligência e a sua determinação" chega a me dar vergonha.

Pra além de toda essa questão problemática, vale dizer também que o livro carece de profundidade. Em vários momentos, eu achei a narrativa um tanto quanto jornalística: sem emoção, apenas descrições. As intenções da protagonista não ficam claras, porque o livro não se importa em esclarecer seus sentimentos e pensamentos ao leitor.

Antes da metade do livro eu já estava completamente desinteressada e irritada com toda a importância que Léna dá a si mesma e às suas ideias geniais. Mesmo assim, insisti. O final não é de todo ruim. Na verdade, o final traz um tom levemente diferente, mais pessoal, focado na transformação que Léna teve e não na que supostamente causou. Se todo o livro tivesse tido esse tom mais pessoal, de uma pessoa se encontrando e se curando, teria sido muito melhor. O problema foi a insistência em transformar Léna numa heroína branca salvando pessoas não-brancas ao invés de focar apenas no fato de ela ser uma mulher em luto buscando se reconectar consigo mesma e se curar enquanto explora um país novo.

Enfim, se você não for uma chata problematizadora como eu, provavelmente você vai apreciar bem mais essa leitura. Acredito que, se você focar no aspecto pessoal do processo de cura da Léna, a leitura funcionará muito bem. Todo o trabalho de diagramação e tradução da Intrínseca está impecável, como sempre. A capa é linda, a leitura é confortável e eu não encontrei um errinho sequer. 

Título Original: Le cerf-volant ✦ Autora: Laetitia Colombani
Páginas: 192 ✦ Tradução: Sofia Soter ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

14 de abril de 2025

O que a comunidade incel, o thriller Garota Invisível e a série Adolescência da Netflix tem em comum?

Recentemente, o termo incel voltou a ganhar destaque por conta do sucesso da mini série Adolescência da Netflix, que acompanha um adolescente acusado de assassinar uma colega de escola. A série vem sendo muito comentada nas redes sociais, tanto por sua qualidade técnica, já que cada um dos quatro episódios foi filmado em um longo plano sequência, quanto pelos temas que ela aborda e pela forma como mostra que tipo de adolescentes a internet e as redes sociais vêm "criando".

Incel é a junção das palavras involuntário e celibatário. Os incels seriam, portanto, homens heterossexuais que culpam as mulheres e a sociedade pela falta de sucesso romântico e sexual. Na lógica desses homens, as mulheres se tornaram muito exigentes e, por isso, muitos homens não estão obtendo sucesso para encontrar mulheres para se relacionar, frustrando-se e destilando ódio por elas. Para muitos incels, mulheres são privilegiadas, protegidas pelo poder público e altamente seletivas sexualmente. Um incel pode ser desde um jovem virgem, tímido e frustrado, até um homem raivoso e violento que encontra justificativa nessa lógica absurda para abusar de mulheres

Conseguem imaginar a minha surpresa quando peguei pra ler o livro Garota Invisível, lançamento da Intrínseca, e me deparei com o termo incel? Ainda impactada com a série Adolescência, eu mergulhei nessa leitura e finalizei o livro em menos de 24 horas. Garota Invisível é um thriller que aborda o submundo dos fóruns incel da internet.

No livro, acompanhamos três pontos de vista: Saffyre é uma jovem traumatizada que é mandada para a terapia após sua família descobrir que ela se mutila. Cate é uma mulher que vive seus dias tomando conta da casa, dos filhos e do marido (que é o psicólogo de Saffyre). Cate e o marido estão se recuperando de uma crise no casamento. Por último, o terceiro ponto de vista é de Owen, um professor de 33 anos de idade que nunca teve um relacionamento amoroso e que acaba de ser afastado do trabalho por conta de uma acusação feita por suas alunas. Revoltado com a acusação, Owen encontra consolo num fórum incel.

Enquanto Adolescência parece um thriller, mas é um drama, Garota Invisível parece um drama, mas é um thriller. Saffyre irá desaparecer e a investigação envolverá a todos. Thriller está longe de ser meu gênero literário favorito. As fórmulas pré-prontas e replicáveis me incomodam um pouco. Na verdade, quando peguei Garota Invisível pra ler, minha motivação tinha sido o fato de ter um personagem psicólogo. Eu, como psicóloga, adoro ver como minha profissão é retratada na literatura e no cinema. Garota Invisível segue o padrão dos thrillers de ir desenrolando a história aos poucos, mantendo a tensão e revelando informações importantes em momentos estratégicos. 

Apesar de não ser meu tipo favorito de leitura, Garota Invisível conseguiu me envolver rapidamente. Passei horas conversando com meu marido sobre o livro e entrei a madrugada lendo. Saffyre é uma narradora muito interessante. Seus traumas fazem dela uma personagem cheia de camadas e complexidade. Mas meu ponto de vista favorito foi o do Owen, porque ele é um personagem difícil de compreender, principalmente porque nem ele mesmo se compreende. Eu entendo perfeitamente as intenções da autora com esse personagem, mas ainda não tenho uma opinião formada sobre isso. Posso dizer que Lisa Jewell escolheu um caminho perigoso para o personagem (desculpa a frase misteriosa, mas não quero dar spoiler).

A parte que menos gostei do livro foi a resolução do mistério e a conclusão. Achei confusa e desnecessariamente mirabolante (algo que vejo constantemente em thrillers). Mesmo assim, ler esse livro foi uma experiência muito boa, principalmente pelas reflexões que ele propôs, sobre como as aparências enganam, sobre o perigo dos fóruns incels e sobre o risco de nos vermos seduzidos por ideias insanas quando estamos emocionalmente fragilizados.

Adorei a leitura e tenho certeza que é um livro que vai agradar a grande maioria dos leitores. Lisa consegue unir mistério, drama familiar e crítica social numa obra envolvente e coesa. Recomendo!!!

Título Original: Invisible Girl ✦ Autora: Lisa Jewell
Páginas: 384 ✦ Tradução: Karine Ribeiro ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

7 de abril de 2025

Top Comentarista: Abril 2025


Todos os meses euzinha começando o post do top comentarista pedindo desculpas pelo atraso, mas é isso, amores. Abril é o mês do meu aniversário — que é hoje, inclusive, 07/04 — e eu sempre fico muito animada com a chegada dele. Esse ano tô um pouquinho pra baixo com as mil e uma coisas que tão acontecendo na minha vida, mas com a fé de que as coisas voltarão para os eixos. Gente, cês acreditam que eu tô fazendo trinta anos? Mas se me perguntarem, juro que tenho no máximo 23 😹. Bom, vamos finalmente ao top?

As regrinhas continuam as mesmas, mas não custa relembrar, né? Nos primórdios do blog, era obrigatório comentar em todas as postagens para não ser desclassificado do concurso, mas agora vocês são sorteadas a partir dos comentários. Isso significa que não é obrigatório comentar em todos os posts: cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia — recomendo que vocês comentem e preencham o formulário sempre que sair post novo, já que quanto mais comentários cadastrados, maior a chance de ganhar. Todos os meses um comentário será sorteado pelo aplicativo. Outra coisa, agora que o Twitter ressuscitou, voltei com as entradas referentes à ele no formulário, fiquem atentas!

Atenção: só preencha o formulário nos dias em que comentar no blog. Por exemplo, se em determinado mês tiverem 13 posts, o número máximo de entradas que cada participante pode ter no formulário é 13! Outra coisinha: já tem alguns anos que o Rafflecopter não é mais responsivo, então acho que no computador a visualização fica melhor! Até pensei em fazer o formulário pelo Google, mas o sorteio é mais trabalhoso para mim. Quaisquer dúvidas, podem entrar em contato comigo no Twitter ou Instagram! 💖

O prêmio é um vale de trinta reais na Amazon! Ah, as chances extras continuam: comentar nos posts do Instagram e tweetar sobre o top todos os dias em que tiver postagem nova por aqui, então aproveitem! Caso tenha restado alguma dúvida, podem me procurar nas redes sociais, tá bom?

Observações
- O período de validade desse top comentarista é de 07/04/2025 à 30/04/2025. Cada comentário que vocês fizerem devem ser cadastrados no formulário do Rafflecopter, que só aceita uma entrada por dia.
Não serão computados comentários genéricos, só aqueles que exprimem a opinião do leitor e mostram que ele realmente leu o post. Comentários plagiados de outras plataformas (lembrem-se que plágio é crime) ou que se repetem em outros blogs não serão considerados. Comentários do tipo serão excluídos sem aviso prévio e o participante será automaticamente desclassificado;
- É permitido apenas um comentário por post;
- É obrigatório seguir o Roendo Livros via GFC e seguir o perfil @anadoroendo no Instagram para validar a participação;
- A entrada "tweet about de giveaway" só será válida se a pessoa estiver seguindo o Twitter informado (@anadoroendo);
- Após o término do top, o Roendo Livros tem até 30 dias para divulgar o resultado;
- O ganhador tem 48h para responder o e-mail com os dados de envio, caso contrário o sorteio será refeito. O livro escolhido (na faixa de preço estabelecida) deverá ser informado no corpo do e-mail;
- Após feito o contato, o prêmio será enviado dentro de até 60 dias úteis;
- Para o livro ser enviado, é necessário que o ganhador passe o número do CPF para a Ana, já que agora os Correios solicitam uma declaração de conteúdo (saiba mais aqui) Só participe do sorteio se estiver de acordo;
- O Roendo Livros não se responsabiliza por extravio ou atraso na entrega dos Correios, bem como danos causados no livro. Assim como não se responsabiliza por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador, e ausência de recebedor. O livro não será enviado novamente;
- O Roendo Livros se reserva o direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.
- Este concurso é de caráter recreativo/cultural, conforme item II do artigo 3º da Lei 5.768 de 20/12/71 e dispensa autorização do Ministério da Fazenda e da Justiça, não está vinculada à compra e/ou aquisição de produtos e serviços e a participação é gratuita.
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