Nossa narradora, Yoela, relata de forma não linear o período entre o nascimento de sua filha e o momento atual, em que não há nenhum contato entre elas e Yoela descobriu por conta própria que sua filha está casada e tem duas filhas. Yoela, assim como nós, leitores, não sabe exatamente o que causou o rompimento de sua relação com a filha e repassa os fatos para tentar encontrar uma explicação.
Quando Lea nasce, Yoela experimenta o maior amor que já sentiu na vida e fica obcecada pela menina, obcecada por amá-la, protegê-la e estar sempre perto dela. O contraste com o momento atual é intenso: Yoela espiona a família da filha pela janela de sua casa. Lea nunca contou onde mora ou que é casada ou que é mãe. Yoela descobriu tudo sozinha.
Conforme revisitamos toda a maternidade de Yoela e o desenvolvimento de Lea fica cada vez mais difícil entender onde foi que tudo desandou. Durante a infância, Yoela e Lea eram muito próximas (até demais). Então o que estragou a relação delas a ponto de uma filha não compartilhar nada com a mãe, nem mesmo os acontecimentos mais importantes de sua vida?
Eu gostei dessa leitura, mas não amei. Li rápido, de um dia para o outro. Fiquei curiosa pra saber o que aconteceu entre Yoela e Lea e, ao final do livro, entendi que uma relação não acaba por causa de um evento isolado. Às vezes também não precisa de nada grande, nenhum grande erro. São as pequenas coisas, os pequenos erros, que acabam com uma relação. E nenhum relacionamento é imune, nem mesmo a relação mãe-filha.
A narrativa é confusa em alguns momentos. Yoela não segue uma ordem cronológica, mas salta de um momento para outro, fala dos livros que lê, dos filmes que vê, da filha, do marido, da mãe. Em diversos momentos, eu senti que Yoela não é uma narradora confiável. Em momentos bastante importantes da história ela convenientemente não se lembra exatamente do que aconteceu.
Eu cheguei ao final desse livro desejando uma versão narrada pela Lea, para conhecer o seu lado da história e saber o que tanto a magoou. Meus sentimentos por Yoela foram conflitantes. Sua obsessão pela filha e o quanto ela a protege, a ponto de sufocar, me irritou. Ao mesmo tempo, senti pena dela pela situação atual em que ela se encontra. Algumas decisões dela são absolutamente questionáveis e eu passei o livro todo me perguntando o que eu faria nessa situação.
Como Amar Uma Filha é uma leitura interessante, rápida e melancólica. O romance israelense foi tão aclamado que rendeu à autora, Hila Blum, o prêmio Sapir em 2021. Quero aproveitar o espaço para enaltecer, também, a arte da capa, feita pela artista Jade Marra. Vale a pena seguir ela no Instagram: @jademarrra.
Tradução: Nancy Rozenchan ✦ Editora: Intrínseca