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3 de setembro de 2014

A Morte de Ivan Ilitch | Tolstói

Título Original:
 Смерть Ивана Ильича
Título em Inglês: The Death of Ivan Ilyich
Autor: Tolstói
Páginas: 96
Tradução: Boris Schnaiderman
Editora: Editora 34
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Sempre tenho certa dificuldade para falar sobre livros mais densos, e temos mais um desses casos aqui. Muitas pessoas já tinham me indicado o autor, mas eu vivia protelando. Certo dia encontrei esse livro no meio da coleção do meu irmão e resolvi ler para descobrir o porquê de o Tolstói ser tão "endeusado". Foi aí que descobri que não é a toa que ele é considerado um dos maiores nomes não só da literatura russa, mas também da mundial. 

A narrativa começa pelo fim. Sua morte era comentada por todos os lugares no prédio do Tribunal de Justiça onde Ivan Ilitch trabalhava, mas nada de condolências sinceras: o que discutiam, na verdade, eram as promoções ou transferências de cargos, já que havia uma vaga em jogo. Assim, já sabemos que Ivan Ilitch tem um cargo importantíssimo nessa imensa (e mentirosa) esfera estatal. 

Após se formar em Direito, Ivan Ilitch assume o cargo de secretário particular e emissário do governador, que seria uma espécie de presente dado pelo seu pai. Já nessa parte conseguimos perceber o ambiente cheio de máscaras onde a estória é narrada. Nesse mesmo tempo, se casa puramente por interesse com Prascóvia Fiódorovna. Percebemos então uma crítica de Tolstói à farsa dos casamentos sem amor, já que o personagem principal se vê mergulhado em um relacionamento cheio de cobranças, amarguras e nenhum momento de felicidade. 

Um dia, Ivan percebe que o que ganha não é suficiente para sustentar a família e resolve procurar outra função. Encontrando-a, investiu em um apartamento na nova cidade. Tomou conta inclusive da decoração, e é exatamente nesse momento que se tem o início de toda a tragédia, quando, sem mais nem menos, cai de uma escada. Apesar de não dar muita atenção no início, já que a dor foi passageira, com o passar do tempo descobre que a queda o trouxe uma doença terrível no rim, que nenhum médico no mundo conseguia tratar. 

Mas ele sabia que nada do que fizessem teria outro resultado que não mais agonia, mais sofrimento e a morte. E a farsa desgostava-o profundamente: atormentava-o o fato de que se recusassem a admitir o que eles e ele próprio bem sabiam, mas insistiam em ignorar e forçavam-no a participar da mentira. Esse fingimento que se estabeleceu em torno dele até a véspera de sua morte, essa mentira que só fazia colocar no mesmo nível o solene ato de sua morte, suas visitas, suas cortinas, seu caviar para o jantar...  Eram-lhe terrivelmente dolorosos.

Foram meses de intensa agonia, onde chegou uma hora em que o protagonista precisava de ajudar para qualquer coisa. Sem contar as dores que sentia, que eram fortíssimas. É justamente quando a morte bate à porte que percebemos o quão frágeis são os seres humanos, fato que Tolstói mostra incrivelmente bem durante toda a narrativa. É nesse momento de fragilidade que Ilitch questiona toda a sua vida desde a infância ao casamento fracassado. 

A morte sempre foi um tema que me intrigou bastante. Na verdade, não sabemos como vai ser até que aconteça com a gente, então fica bastante subentendido. Em A Morte de Ivan Ilitch temos uma ideia de quão solitária é a morte e o quão difícil é lidar com ela, afinal, ninguém quer morrer. Tanto que o sofrimento do personagem passa para todos nós, simbolizando a condição humana como um todo.

A obra de Tolstói é uma crítica completa à alta sociedade russa e também a quem vive apenas com o intuito de ter reconhecimento social e o status. É realmente triste percebermos que, como acontece com nosso personagem principal, só a morte nos faz perceber o quanto nossa vida foi equivocada e egoísta. Apesar de curto, o livro mostra de uma forma pesada o que é morrer estando ainda vivo, unicamente pelo resultado de nossas escolhas.

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