Quando eu era adolescente, não existia tanta informação sobre o feminismo por aí — ou, se existia, poucas meninas tinham acesso. Eu fico muito, muito feliz quando leio livros sobre o assunto que têm como público alvo os adolescentes. É o caso de Moxie, uma história sobre resistência feminina em um ambiente escolar machista e misógino. O mais legal de tudo é que a trama de Jennifer Mathieu é exatamente o que acontece em diversos lugares, e a forma simples como ela usa os termos só deixa o acesso ao tema mais fácil.
Quem nunca ouviu de um colega que lugar de mulher é na cozinha? Quem de vocês nunca foi interrompida enquanto falava sobre determinado assunto na sala de aula? No colégio onde Vivian estuda as coisas sempre foram assim: os colegas vivem fazendo comentários ofensivos, usando camisetas com mensagens apelativas e nada acontece com nenhum deles — até porque um dos meninos é filho do diretor, então privilégio aqui é pouco. Por outro lado, as meninas não têm nenhum direito, inclusive vigiam até as roupas que elas usam, porque segundo o “o recato é uma virtude que nunca sai de moda”.
Depois de um acontecimento com a aluna nova dentro da sala de aula, onde Vivian percebeu que as meninas não têm apoio nem dos professores, ela resolver protestar. Inspirada na adolescência da mãe, a adolescente cria uma fanzine — Moxie — para denunciar a postura dos homens do colégio e unir mais meninas que pensassem como ela. As ações começaram bem pequenas, mas à medida que mais pessoas se juntavam a causa, o movimento começou a ficar cada vez mais forte, passando a incomodar, também.
— Ah, querida, eu e o John estamos ótimos. De vez em quando os adultos discordam quando falam de política. Ele não disse que o lugar dela era na cozinha ou grávida, nada desse tipo.
Encontro os ombros.
— Entendo. Mas a posição política de alguém não diz muito sobre a pessoa? (p. 177)
Hoje, com 23 anos, digo que sou feminista porque eu luto pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Aos 16 anos, acredito que eu não tinha tanta instrução. Acho de verdade que esse livro teria aberto os meus olhos mais cedo. Talvez eu não teria aceitado relacionamentos tão tóxicos, talvez eu não achasse que eu era menos capacitada e não teria concordado com isso por tanto tempo. Em Moxie, Jennifer mostra, através das personagens, a importância das mulheres se unirem contra o machismo e a sociedade patriarcal.
Viv, a protagonista, é muito forte, consciente e corajosa, características que eu vejo bastante nas adolescentes de hoje. É muito fácil se identificar com ela, com as amigas e as situações horríveis e ridículas que elas passam. Os sentimentos que temos são os mesmos, inclusive o de indignação. Gente, não sei explicar o meu incômodo com as coisas que os meninos falaram, as frases nas camisetas (como "qual é o horário de abertura — das suas pernas?" por exemplo...), como simplesmente não acontecia ninguém fazia nada sobre o assunto. Eu vivo falando que é por causa desse tipo de coisa, muitas vezes consideradas piadas, que o machismo ainda é perpetuado.
Infelizmente o termo "feminismo" ainda é muito mal visto na sociedade. Muitas pessoas acreditam no mito de que as feministas odeiam homens e que só querem causar, uma visão preconceituosa de um movimento tão importante, que salva a vida de várias mulheres. Então, para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, a autora cita várias fontes internacionais que apoiam o feminismo interseccional — afinal, nem toda feminista é branca, cis, com bons recursos financeiros e sem deficiência, não é mesmo? —, como o feministing.com e o rookiemag.com. Para quem tem dificuldades para desembolar o inglês, tem muita coisa boa sobre o feminismo em português também: thinkolga.com, naomekahlo.com e azmina.com.br, por exemplo.
Moxie é um livro empoderador. É um lembrete de que mulheres são importantes, que temos o nosso valor e nossos ideais, de que não somos melhores nem piores que os homens, que merecemos respeito e direitos iguais. É para adolescentes que estão se descobrindo, para jovens que já lutam por diversas causas, para mulheres que ainda têm um pouco de receio com o feminismo e, claro, para os caras legais que se interessam pelo movimento também. Leitura indispensável, principalmente se colocarmos em voga a atual situação político-social do país.
Título Original: Moxie
Autora: Jennifer Mathieu
Páginas: 288
Tradução: Ana Guadalupe
Editora: Verus
Livro recebido em parceria com a editora
Oi Ana,
ResponderExcluirOlha, eu também acho maravilhoso como o tema feminismo anda presente em livros, confesso que já tive uma visão errada sobre isso, e quando ouço alguém falar mal, percebo que é tão mal informado como já fui, ou, apenas mal caráter mesmo.
Bem, a história de Moxie é bem real, passei por isso, no colégio eram sempre as meninas, sempre as erradas, sempre as que provocavam, caramba, muito real mesmo, queria eu poder me espelhar em alguém para lutar contra isso!
Bem, conheci o livro só agora, mas já sinto uma vontade enorme de ler, e também de comentar sobre ele. Aliás, leitura obrigatória né?!!!
Beijos
Infelizmente "na nossa época" não tínhamos Viv com seu Moxie para nos inspirar ou abrir nossos olhos mas ainda Bem que as meninas de hoje em dia tem. E que elas se inspirem com esse livro. Além de aprender sobre feminismo e sororidade. Mas o sentido real e profundo não o deturpado pela sociedade machista e de certos adeptos de políticos.
ResponderExcluirOnde assina?? Também faço parte do time que a cada dia que passa acredita em igualdade e que de certo modo, luta para que isso aconteça.
ResponderExcluirAcredito também que antes o assunto feminismo não era nem conhecido. Nada era falado, mostrado e só com o tempo, isso veio a tona e a todo momento, vemos lutas de mulheres, hoje não mais solitárias!
Como é o caso de Moxie. Não tinha visto ou lido nada a respeito da obra, por isso, já adorei muito tudo que li acima.
E com certeza, o livro vai para a lista de desejados!!!
Beijo
A gente luta de uma forma ou de outra, né?
ExcluirO que mais me deixa feliz é saber que tem tanta mulher massa que se une para que as coisas mudem e aconteçam! <3
Sempre fui muito esquentada com assunto de "menino pode isso e menina não pode". Lembro de coisas pequenas na sala de aula que se uma menina fazia ninguém via como "coisa de menina" mas os moleques fazendo era normal. Achei bem legal mesmo ter uma trama assim que desmascare umas coisas pra quem é nova. É ridículo quando paro pra pensar no que os garotos podiam fazer em sala de aula que a gente se fizesse era assunto que não acabava mais. Já gostei do livro por me fazer pensar nisso. Como teria sido legal ter um coisa assim pra ver as situações de um modo diferente...
ResponderExcluirÉ a união do movimento que o torna tão importante. E sempre é bom ter algo assim pra ler até pra quem vê esse assunto de forma errada mesmo. Muito boa dica.
Desejo muito esse livro, e me sinto mega feliz em saber que gostou do livro.
ResponderExcluirÉ uma leitura com um tema importante, e autora me parece que segue um caminho mais leve.
Espero conhecer Vivian em breve.
Beijos
Moxie me parece um livro incrível, com uma pegada adolescente, narrativa fácil e que prende o leitor a história. Vivian é uma protagonista incrível! Empoderada, dona de si, corajosa e cheia de atitude. EU AMEI! Ter tanta informação disponível nos dias atuais sobre o feminismo é muito importante para a conscientização das mulheres mais jovens e aprendizados das adultas e idosas. O machismo é uma merda. Que livro incrível!
ResponderExcluirNarrativa adolescente é o que há, meu caro! hahahaha AMO!
ExcluirOi, Ana
ResponderExcluirQuem dera se na época do colégio as meninas fossem tão unidas assim.
Mas na escola sofri mais não por ser mulher, mas por ser gorda.
Tenho certeza que Moxie é uma leitura obrigatória para todos, fiquei muito curiosa para saber mais sobre essa revolução que uniu as meninas no colégio. As frases na camiseta é demais né, não basta ouvir ainda tem que ver e ler em camisetas.
Beijos
Pois é, Luana!
ExcluirNa minha época tinha tanta intriguinha, fico chateada só de lembrar. Sinto muito que você tenha sofrido esse tipo de coisa! Eu sofria por ser baixinha demais, mas nem sei se é cabível comparação. Ainda bem que hoje em dia a gente tem representatividade!
Oi, Ana!!
ResponderExcluirGostei muito da indicação desse livro, e sem dúvida é um livro muito interessante e quero muito conhecer mais sobre essa história. Enfim, é um livro em que a protagonista não vai deixar que o preconceito e o machismo tenha vez.
Bjos
O livro tem cara de ser bem feminista e eu identifiquei muito com a protagonista porque no meu antigo colégio também tinha todo esse padrão de uma cultura machista na etiqueta de vestuário e era praticamente endeusados pelos os meninos do time de futebol
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