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19 de fevereiro de 2019

Romance Tóxico | Heather Demetrios


Quem me acompanha no Twitter e no Instagram sabe que o tema do meu TCC foi violência psicológica contra a mulher. Para falar sobre o assunto, eu usei a coisa que mais amo no mundo, que é a literatura, então eu li muitos e muitos livros que falavam sobre esse tipo de violência de gênero para enfim decidir o que eu ia usar — se você estiver curioso, escolhi obras da Charlotte Perkins Gilman e Chimamanda Adichie, rs. Romance Tóxico foi uma dessas leituras e, como o próprio título diz, acompanha um relacionamento abusivo. Só gostaria de deixar claro que, apesar da importância da trama, a história criada por Heather Demetrios é lotada de gatilhos (dependência, chantagem, abuso sexual e doméstico e suicídio) que devem ser tratados com muito cuidado. 

O livro é narrado por Grace, uma jovem que está no último ano do ensino médio e sonha em conhecer o mundo sendo diretora de teatro. Diferente de outras protagonistas, Grace não tem uma vida perfeita. O abuso começa dentro da sua própria casa: é constantemente humilhada e punida por uma mãe desequilibrada e obcecada por limpeza, que por sua vez vive na mira do marido perigoso. Depois, temos Gavin, o cara mais bonito, popular e talentoso do colégio, que fez da personagem principal uma musa inspiradora depois de tê-lo consolado quando tentou se matar após o término de um namoro. Não é difícil de enxergar que as coisas já se mostram muito erradas logo nesse início. 

Romance Tóxico mostra o ciclo perfeito do relacionamento abusivo. Gavin humilha Grace de todas as formas, fazendo questão de afirmar o quanto ela é rasa e vazia, mas basta um "foi sem pensar, você é minha vida" para que a garota o perdoasse — afinal, eles são perfeitos juntos. Com o passar do tempo, Gavin começa a controlar a vida da protagonista: ele não quer que ela converse, toque, fique sozinha com outros garotos; ele não permite que ela faça inscrição na faculdade dos sonhos; ele não quer que ela continue trabalhando; ele afasta Grace das únicas amigas que tem. Se alguma regra é quebrada, Grace não passa de uma vadia, puta mentirosa, mas ele não consegue viver sem ela.

Você é um labirinto, todo cercas altas e voltas infinitas. Não consigo encontrar a saída, não consigo ver por onde passei. Corro, perdida em sua escuridão. Aprisionada. Independente de para onde viro, encontro um beco sem saída. Fico voltando para o início. 

O livro é como se fosse uma carta para Gavin, onde Grace — aparentemente livre do abusador —  narra todos os detalhes da relação para ele. Ela deixa claro até mesmo os alertas das amigas e da irmã sobre a forma como é tratada pelo namorado, algo que é obviamente inaceitável. É aí que a gente começa a sentir raiva. Quem vê o relacionamento de fora enxerga os problemas desde o início: não é normal um cara vigiar a namorada, não é normal pedir para que a pessoa pare de falar com os amigos, não é normal fazer com que a pessoa desista de todos os sonhos, não é normal xingar a namorada de tudo quanto é nome horrível e depois pedir perdão só para poder fazer de novo. Mas ao mesmo tempo que a gente sente raiva — da situação e, algumas vezes, da própria personagem —, a gente consegue entender que a chantagem emocional é tanta que a pessoa simplesmente não consegue sair daquilo. 

Esse com certeza não é um livro fácil. Com esse tipo de narrativa, Grace expõe todos os seus sentimentos e conta tudo o que passou de uma forma nada sutil, detalhe por detalhe. Essa característica acaba por deixar a leitura um pouco lenta e cansativa, mas eu acredito que essa era a intenção da autora, passar a sensação de que Grace ficou presa naquele sofrimento por muito mais tempo — apesar que quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos é muito tempo para se perder, não é mesmo? Mas o que mais incomoda em Romance Tóxico é o teor de realidade. É uma história ficcional, mas quantas de nós passaram/passamos por isso? Quantas amigas nossas estão imersas em um relacionamento aparentemente perfeito, mas são machucadas e chantageadas?

Romance Tóxico deixa uma lição muito importante, é claro. Se você, que está lendo essa resenha, se identificou com Grace de alguma forma, procure ajuda! Pode até parecer impossível abandonar essa relação, mas acredite em mim, basta dar o primeiro passo e tenho certeza que você vai conseguir. Abaixo, seguem alguns contatos importantes caso você se sinta confortável para denunciar e/ou buscar alguma solução. Se não está acontecendo com você, mas conhece alguma amiga que esteja passando por isso, procure ajuda — em briga de marido e mulher se mete a colher SIM!


Título Original: Bad Romance
Autora: Heather Demetrios
Páginas: 416
Tradução: Flávia Souto Maior
Editora: Seguinte
Livro recebido em parceria com a editora

9 comentários :

  1. Achei uma grande sacada essa narrativa que Heather adotou: como se Grace conversasse com o Gavin. É a primeira vez que vejo um livro assim.
    Para quem é espectador de um relacionamento abusivo é fácil dizer: basta terminar superar e seguir em frente. Conforme ia lendo a resenha fiquei “poxa, se ela estuda trabalha tem sonhos e projetos e ela mesma as vezes percebe traços abusivos no namorado porque não vai lá e termina? Mas para quem está em um relacionamento assim nem tudo é preto no branco.
    ” O príncipe virou um monstro

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  2. Que resenha espetacular!!!
    Além de trazer este livro que se tornou um dos mais desejados no ano passado e ainda neste início de ano, há também este alerta a tantas mulheres que muitas vezes, nem se dão conta de que estão em um relacionamento abusivo desta forma.
    Não há romantização, não há meio termo, há apenas uma pessoa perversa e outra que não se dá conta do que acontece com ela mesma e isso é fantástico!
    Imagino o quanto deve ter sido ler uma obra assim, mas mesmo assim, espero em breve, ter e ler este livro!!!
    Beijo

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  3. Achei bem interessante as coisas que o livro fala. Sobre um romance tóxico mesmo. É legal você ter histórias assim porque as vezes serve de alerta e outras abre os olhos de quem pode estar passando por algo assim. Só pelas coisas que disse que o cara faz já me peguei com raiva, já dá pra ver que é leitura difícil e deixa aquela torcida pela garota se livrar disso e nunca mais passar por algo assim. Forte. Pesado. Importante. Queria ler. Gostei do jeito que ele parece tratar do assunto.

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  4. Muito bacana o tema que escolheu para o TCC.
    Romance Tóxico está na minha lista; acredito que qualquer livro que aborde um relacionamento abusivo terá gatilhos, mas vai do autor saber conduzir com delicadeza. Me parece Heather conseguiu.
    Espero ler em breve.

    Beijos

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    1. Obrigada, Ludy!
      Sim, é verdade. Tem que ter muita delicadeza pra falar sobre, mas também acho que existem momentos certos para ler, né? Sei lá.

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  5. Oi, Ana!!
    Sem dúvida esse livro não é uma história fácil de se ler principalmente depois de ver os números de feminicídios, abusos sexuais e violência domestica são alarmantes. E triste ver que a Grace é maltratada dentro da própria casa pela a mãe e pelo padrasto e que acaba se envolvendo com um abusador como o Gavin. E um livro que tem um tema muito importante e que com certeza gostaria muito de ler.

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  6. Quero muito ler esse livro, e lendo agora sua resenha deu pra ver que ele é beeeem completo, narrando várias fases dos relacionamentos abusivos, e pelo jeito, com muita inteligência, sem ser de qualquer jeito, superficialmente.
    Mas confesso que estou com medo de ler. Porque esses livros são difíceis né? Machucam.
    Lerei assim que tiver coragem!
    bjs

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  7. Oi, Ana
    Parabéns pelo TCC, um tema e tanto para ser abordado. Hoje vi sua foto com o diploma.
    Desde que li a primeira resenha desse livro já adicionei na minha lista de desejos, gostei da forma que a trama foi tecida.
    Mostrando como Grace se sentia, muitas mulheres passam por isso e nem se dão conta devido ao apelo psicológico que o agressor as envolve.
    Quero muito ler, beijos!

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    1. Ahhhh obrigada! Consegui depois de muita luta. Graças a Deus no final as coisas dão certo.
      Sim, é muito triste a gente ser espectador do abuso também, principalmente porque nada do que a gente fala adianta. Queria que meninas que passam por isso pudessem ler esse livro! Talvez conseguissem se livrar mais facilmente...

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