SOCIAL MEDIA

29 de maio de 2019

Angústia | Graciliano Ramos


Luís da Silva, o protagonista de Angústia, inicia sua narrativa em primeira pessoa evidenciando que ele é um homem comum, pobre, funcionário público e morador de uma pensão em Maceió. No entanto, Luís insere flashbacks e reflexões em sua narrativa que conseguem transportar o leitor para a sua mente. E que mente é essa? Utilizando-se do recurso narrativo de fluxo de consciência, a leitura vai tomando proporções e profundidades inesperadas.

O fluxo de consciência é um recurso que costuma ser associado a uma leitura truncada e lenta. Porém, depois que o leitor consegue entrar no ritmo do narrador, é perfeitamente possível prosseguir na leitura com tranquilidade. Luís mistura fatos atuais com memórias e com reflexões, o que é muito interessante por permitir que o leitor veja a vida que Luís tinha durante a infância e compreenda como as coisas mudaram tanto para ele, especialmente no quesito financeiro.

Mas, afinal, o que acontece nessa história? É difícil falar sobre esse livro porque qualquer coisa pode ser spoiler. Basicamente, o livro começa despretensiosamente, narrando os acontecimentos da vida do protagonista até o momento em que ele conhece Marina, uma moça por quem ele se apaixona. Esse é o primeiro grande momento do livro, que é seguido por outros dois momentos importantes, culminando no clímax. Todos esses momentos envolvem Marina, mesmo que indiretamente.

Confesso que o clímax do livro foi completamente inesperado pra mim e me surpreendeu de forma positiva. Eu não esperava que o livro fosse tomar esse rumo. Até a metade do livro, as coisas são bem mornas e confesso que, apesar de interessante, o livro não tinha conseguido me conquistar completamente. Porém, quando a história vai tomando forma tudo fica mais interessante.

E o título do livro também faz todo o sentido. A angústia é um sentimento bastante presente durante a narrativa de Luís e isso também se transfere ao leitor, que sente essa angústia junto com o personagem. Angústia que, inclusive, me lembrou muito Crime e Castigo, do Dostoiévski. Essas duas leituras me despertaram sensações parecidas, especialmente ansiedade.

É sempre digno de nota quando um livro desperta emoções em nós e isso é algo que eu admiro muito. Angústia é um livro que possui uma atmosfera de angústia. É difícil explicar, mas sentir é inevitável. Eu não simpatizei com nenhum personagem do livro. Mas isso foi indiferente ao longa da leitura. Esse é um livro que te conquista de outras formas.

A edição está muito bonita. As cores e a arte da capa estão lindíssimas e traduzem bem o clima do livro. Foi uma leitura rápida pra mim, mas, confesso que teve momentos em que eu não estava curtindo muito a leitura. Apesar de não ter encontrado dificuldades, teve momentos em que a história estava chata e me fez ter vontade de pular algumas páginas. Mas valeu a pena pelos momentos de importância e pelas reviravoltas.

Essa quebra de padrões narrativos não se dá apenas pela narrativa em fluxo de consciência, esse também é um romance circular, ou seja, ele termina onde começa. Então, depois de ler as últimas páginas, é comum você ficar sem entender muito bem o final. Aí é só voltar e reler as primeiras páginas do livro de novo. É nas primeiras páginas que se dá o fim do livro. Por isso que, no começo, essa leitura parece ser difícil. Genial, né?!

Eu gosto muito de fluxo de consciência, pois esse recurso narrativo sempre me faz perceber o quanto de vida cabe em tão pouco tempo. A vida também acontece na nossa mente, na nossa imaginação, nas coisas que pensamos, lembramos e sentimos. E isso é maravilhosamente complexo. Mrs. Dalloway, da Virginia Woolf, me deu essa mesma sensação. Então, se você quer uma leitura profunda com uma narrativa diferente, eu recomendo Angústia.

Título Original: Angústia
Autor: Graciliano Ramos
Páginas: 336
Editora: Record
Livro recebido em parceria com a editora

9 comentários :

  1. A vida de Luís antes de Marina é só reclamação após reclamação, vive por viver, Sem um objetivo e sem lutar pra sair dessa vida.
    Mas até nisso Luís não tem sorte... nem quando passa a "amar" deixa a angústia de lado. Parece que suas paranoias aumentam e ele começa a ter ideias violentas
    Realmente a narrativa permite que consigamos entender Luís um pouco melhor. Quanto ao livro terminar onde começa é sem dúvida uma grande sacada

    ResponderExcluir
  2. Interessante e diferente esse livro. Achei estranho falar que não simpatizou com personagens do livro mas que ele faz sentir muito. Bem doido isso, ainda mais porque quando leio umas coisas assim, cheias de sentimentos, costumo me apegar muito as pessoas da história. Foi um conceito meio doido pra mim. Mas muito legal isso, da angustia presente na história e da história em si. Mesmo com um começo mais morno achei legal que depois tudo tome uma forma maior e aí sim você se pega presa pela história e tudo que pode passar. Adoro uns livros assim. E amei a ideia de uma história em círculos porque esse tipo de livro deixa um gostinho a mais, uma coisa a mais pras se destacar não é? Parece legal. Um livro que surpreende.

    ResponderExcluir
  3. Acredito que este livro seja bem dividido em duas partes, o antes e o depois. E sim, Graciliano sempre teve este dom nato de conduzir suas histórias assim, de uma forma ímpar, colocando não somente os personagens reais, mas também os sentimentos ali, batendo de frente um com o outro.
    A angústia sempre foi algo tão presente em cada um de nós, uns mais, outros nem tanto..mas o autor soube com certeza, usar toda esta angústia em Luís!
    Lerei!!!
    Beijo

    ResponderExcluir
  4. Graciliano é um escritor extremamente elogiado, mas ainda não tive a chance de conhecer sua escrita.
    Muito bom quando um livro nos surpreende positivamente e fico feliz que a história tenha ganhado um novo ritmo da metade para lá.
    O título chama atenção e a capa está muito bonita.

    Beijos

    ResponderExcluir
  5. Gosto de livros que têm um fundo histórico, mas, quase sempre, acho densa uma leitura que têm como técnica de escrita o fluxo de consciência. Porém, o Machado é a minha referência literária predileta dos tempos de escola e ainda quero ler sua obra completa! Gostei da referência ao Crime e Castigo e também de Angústia ser um romance circular. Realmente, é genial fazer o leitor voltar a ler as primeiras páginas do livro para encontrar o final.

    ResponderExcluir
  6. Oi, Priscilla
    Ainda não li esse livro, confesso que muitos livros exigidos na escola ou vestibular só li resumos. Muitos tentei ler e na época não entendia muito e parei de ler.
    Mas quero muito poder dar chance a estes livros que tanto fugi deles na adolescência.
    É um enredo que mesmo fazendo o leitor sentir essa angustia que o personagem sente você fica mais ainda instigado a devorar o livro.
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Priscilla, parece ser bem intenso e emocionante esse livro!
    Eu tive uma professora que sempre o indicava, porém, nunca pegue para ler.
    Mas quero muito.
    Gostei demais de S. Bernardos e outro que li do autor.
    bjss

    ResponderExcluir
  8. Oi Priscilla,
    O livro assusta inicialmente, pois além de se tratar de uma obra de Graciliano Ramos (um nome que merece muito respeito) vem com a promessa de uma narrativa diferente e difícil até certo ponto. Gosto muito quando um autor explora bem seu personagem e pela narrativa e forma como essa história é contada diria que Graciliano fez isso muito bem. A leitura de qualquer obra, para mim, tem que despertar algum sentimento, qualquer que seja, pois é aí que rola alguma conexão com a trama. Angústia, ao que parece, faz jus ao nome e já fiquei bem curiosa para saber de que forma isso irá acontecer.

    ResponderExcluir
  9. Oi, Priscila!!
    Que livro é esse do Graciliano Ramos?!! Sem dúvida é uma história impar que instiga e prende o leitor. Ainda não li essa obra mas fiquei muito curiosa para sabe mais sobre esse livro fantástico. Amei a indicação.
    Bjs

    ResponderExcluir