Vocês já perceberam como é difícil falar sobre algo que a gente ama intensamente? Pois é. Meu dilema atual é esse. Como falar sobre o primeiro livro a entrar na minha lista de favoritos da vida em 2019? Sim, A Insustentável Leveza do Ser entrou para a minha seleta lista de livros favoritos da vida. Explicar o porquê é a parte complicada.
Eu só consigo pensar em uma palavra para definir esse livro: complexidade. Este é um livro que reúne filosofia, relações interpessoais, política, sexualidade e muitas outras coisas. Por si só, esses temas já são densos. Imagine-os todos juntos.
O livro nos apresentará a quatro personagens cujas vidas se cruzam de alguma forma: Tomas, Tereza, Sabina e Franz. Enquanto conta a história desses personagens, o autor nos fornece informações riquíssimas sobre o contexto social e político em que essa história se passa, ao mesmo tempo em que trabalha temas da filosofia. O eterno retorno e o efeito borboleta, por exemplo, são conceitos debatidos ao longo da obra.
E a complexidade não acaba aí. Os personagens são muito bem delineados e o autor teve o cuidado de explicar cada traço de personalidade de cada personagem. Não é um simples: "Essa pessoa é assim". É um: "Essa pessoa é assim por causa disso que aconteceu quando ela era criança que a levou a fazer aquilo e gerou essa característica". Com isso, o leitor se sente íntimo de cada personagem.
Porém, é importante mencionar que se sentir íntimo dos personagens é diferente de gostar deles. O autor não vai pelo caminho mais fácil, ele não apela para a nossa simpatia. Ele nos oferece personagens que beiram o detestável e nos faz gostar deles mesmo assim. Isso porque o autor consegue fugir da superficialidade e nos fornece explicações até para os piores defeitos dos personagens.
Tomas e Tereza, por exemplo, estão imersos em um relacionamento que é tóxico para ambos. A incapacidade de ser fiel de Tomas, aliado à carência de Tereza, fazem com que eles sejam um casal extremamente problemático. Na verdade, todas as relações desenvolvidas nessa história são adoecedoras.
E eu preciso falar da narrativa. Este não é um livro de leitura fácil. Ele me demandou mais tempo do que estou acostumada a despender para um livro desse tamanho. Mas não se enganem. Isso não significa que a leitura seja truncada. É que é tanta coisa, tanto conteúdo em um único parágrafo, que se a leitura não for feita com toda a atenção, a gente perde muita coisa.
E esqueçam a linearidade. Na verdade, o que Kundera faz aqui é quase um fluxo de consciência. Indo e vindo no tempo, misturando acontecimentos com debates filosóficos, pulando de um lugar para o outro, recontando eventos sob outros pontos de vista, elaborando contexto político e misturando sonhos e realidade. Mas não pensem que essas coisas estão jogadas no texto de forma confusa e bagunçada. Kundera amarra tudo e nos entrega uma loucura ordenada.
E o que dizer do título? Me contem se A Insustentável Leveza do Ser não é um dos títulos literários mais lindos que vocês já viram? E é um título que consegue traduzir perfeitamente o conteúdo da obra. Essa sobreposição de conceitos contraditórios é exatamente o tipo de debates que encontramos no livro. O peso e a leveza, o destino e as coincidências, a fidelidade e a libertinagem, o amor e o sexo, a razão e o sentimento, esquerda e direita.
Também é importante mencionar que esse é um livro com conteúdo adulto e descrições explícitas de sexo. De qualquer forma, não é o tipo de leitura que eu recomendaria a um público mais jovem. Não só pelo teor sexual, mas por toda a complexidade dos temas trabalhados.
Dentre todos os debates que o livro traz, um dos que mais mexeram comigo e que acontece logo nas primeiras páginas é uma discussão sobre como a vida é sempre um esboço, em que não há meios de verificar se nossas escolhas são as melhores escolhas ou se seria melhor ir por outro caminho. Dessa forma, toda a nossa vida é um ensaio que termina em si mesma e onde tudo é vivido pela primeira e definitiva vez.
Esse é apenas um dos debates que o livro traz. O valor das coincidências na determinação de nossas vidas é outro. Assim como a forma como nós nos apoiamos em uma suposta superioridade humana para dominar inescrupulosamente todos os animais.
Certamente, eu não consegui definir o valor desse livro nessa resenha, mas espero ter despertado em você a vontade de conhecer essa obra que tanto me encantou. Garanto que A Insustentável Leveza do Ser tem muito a oferecer, pois é o tipo de leitura que permanece com a gente mesmo depois que a leitura acaba. É também um livro que pretendo reler, pois sei que uma leitura não é o suficiente para absorver tudo o que esse livro tem.
Título Original: Nesnesitelná Lehkost Bytí
Autor: Milan Kundera
Páginas: 312
Tradução: Teresa Bilhões Carvalho da Fonseca
Editora: Companhia de Bolso
Livro recebido em parceria com a editora
Este livro sem sombra de dúvidas é um dos grandes clássicos mundiais e apesar de muita gente torcer o nariz por se tratar um pouco(tanto) de filosofia, também o livro aborda outros temas fundamentais a vida humana.
ResponderExcluirMe recordo muito bem quando o li numa edição totalmente diferente desta, mas o conteúdo, o teor não só de vida, como de seguir adiante, estão aqui ainda, presentes e vivos!
Por isso, fiquei fascinada com essa roupagem nova e com certeza, deu maior vontade reler a obra!
Beijo
Mais que um livro é um ensaio filosófico não é?
ResponderExcluirFala sobre a dualidade do ser humano, sobre o peso x a leveza.
As citações dos filósofos só enriquece o livro.
E no momento que o Brasil se encontra sua leitura deveria ser obrigatória.
Um clássico complexo, que foge da superficialidade. Não me recordo de ter lido um livro com personagens descritos tão detalhadamente. Acho que, realmente, a leitura requer bastante atenção, em função do estilo da narrativa do autor, um quase fluxo de consciência, como vc mencionou.
ResponderExcluirAcho que o título evidencia a profundidade do livro. Fiquei querendo saber como o autor trabalha os paradoxos do Ser.
Ai agora deu vontade de ler! É mesmo difícil falar de um livro que a gente gosta muito por faltar a palavra certa pra descrever o que agradou tanto, dar a entender aos outros porque um livro é maravilhoso pra você. Mas quando a gente começa não para mais! Gostei muito das coisas que ele parece abordar, tipo os dois lados de tudo e de um jeito cheio de pensamentos pra você tirar e coisas pra aprender sobre os dois lados. Parece ser daqueles livros que te fazem entender cada coisa, sabe? Muito pra se explorar e tirar daí. Achei doido ter umas cenas mais explicitas, não esperaria isso pelo titulo e jeito da sinopse. Mas levando em conta tudo que fala é bem interessante ter esse lado também pra se explorar ali. Deu vontade de conhecer. Parece ser desses livros que você se lembra pra sempre, muito bom ^^
ResponderExcluirQue resenha linda!
ResponderExcluirÉ a primeira que leio sobre esse livro e me deixou muito interesse; tem temas que chamam a atenção e parece uma leitura que pede calma.
O título é poético...
Também tenho essa dificuldade de falar sobre algo que amo, sai vários adjetivos, mas nada que exprima o sentimento.
Beijos
Oi Priscilla,
ResponderExcluirMilan Kundera é um daqueles autores que sempre ouço grandes elogios, mas que, de que alguma forma, me intimida, pois associo sua escrita a algo complicado e, talvez, fora de minha zona de conforto. Sua resenha me mostrou exatamente isso, mas não somente, pois nela pude entender que a complexidade nem sempre vem acompanhada de incompreensão ou dificuldade. Senti uma certa delicadeza por parte do autor em contar essa história, principalmente ao descrever os personagens, mesmo estes tendo suas falhas, o que, para mim, só deixa tudo mais real. A próxima vez que eu me deparar com alguma obra de Kundera não serei cautelosa ou influenciada pelo medo da leitura, tentarei, ao menos, dar uma chance e quem sabe não descubro um novo autor favorito?
Olá, Priscilla
ResponderExcluirA capa do livro já conhecia, mas ainda não tinha lido nenhuma resenha sobre ele.
Gosto de tramas que trás personagens com mais detalhes que posso conhecer mais de cada um. Aborda uma variedade de temas que cria uma narrativa ao mesmo tempo tensa, nostálgica, angustiante, corajosa e extremamente reflexiva e introspectiva.
Quero ter oportunidade para ler, beijos!
Priscilla, que linda resenha!!
ResponderExcluirGostei muito!
Já peguei esse livro pra ler, mas eu tinha 18 anos e achei beeeem complexo, não entendi quase nada e parei, rsrsrs
mas agora mais velha, acho que compreenderei mais.
Gosto de histórias profundas assim.
O duro é que posso não entender kkk
bjs
Oi, Priscila!!
ResponderExcluirNossa que livro é esse?! Sem dúvida um clássico que não é fácil de ser lido, sem dúvida é um livro bem diferente de todos que já li e também um dos mais complexos. Mas gostei da indicação.
Bjs
Sou apaixonado pelas questões filosóficas e pelo comportamento humano. A resenha foi bastante objetiva. Livros devem ser lidos e relidos, pois a cada leitura enxergamos algo novo.
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