O ano é 1947. Nisha, uma garotinha calada de 12 anos, mora com o pai, a avó paterna, o irmão gêmeo e o cozinheiro em uma casa bem grande em Mirpur Khas, cidade onde o pai atua como médico. Atualmente, Mirpur Khas está localizada na província de Sindh, no Paquistão, mas nem sempre foi assim. Há pouco mais de 70 anos, a Índia deixou de ser colônia britânica e o país se dividiu de forma não amigável: de um lado permaneceu a Índia, de maioria hindu, e do outro foi "criado" o Paquistão, de maioria muçulmana. Foi a maior migração forçada da história, motivada principalmente pela violência entre os grupos.
Todas essas informações que normalmente aprendemos na escola — nesse momento gostaria de lembrar que não foi o meu caso, já que nunca ouvi falar sobre tais acontecimentos no ambiente escolar, o que, na minha opinião, é uma falha gigantesca no ensino — nos são dadas por Nisha, que escrevia todos os acontecimentos em um diário que ganhou de aniversário do seu único amigo, o cozinheiro Kazi. Em Mirpur Khas hindus e muçulmanos conviviam pacificamente, mas a partir de um momento da história, até andar na rua se torna perigoso. É através dos olhos de Nisha que acompanhamos a trajetória dessa família hindu que é obrigada a deixar o lar, deixar os amigos, deixar toda uma vida para trás para ter a chance de sobreviver.
Apesar de ter 12 anos, Nisha ainda é muito inocente, principalmente porque tentam a todo custo esconder as informações dela — e tudo o que ela sabe é seu irmão Amil que conta. Ela não entende porquê as pessoas têm que brigar umas com as outras, muito menos porque ela tem que sair de casa levando consigo apenas o que consegue carregar. Durante a longa caminhada até a Índia hindu, Nisha se depara com cenas horrendas envolvendo assassinatos. Os dois grupos eram ambos vítimas e agressores. Para vocês terem ideia, quando a migração chegou ao fim, em 1948, cerca de 15 milhões de pessoas havia se deslocado e mais de de um milhão de pessoas morreu enquanto tentava. Ver isso através dos olhos de criança foi muito doloroso.
Com o passar das páginas, que são direcionadas à mãe de Nisha, que morreu durante o parto, vamos descobrindo informações sobre a família que deixam a história ainda mais difícil de ser digerida. Além disso, Nisha nunca foi de falar muito, e acaba encontrando na escrita uma forma de se expressar. O fato de direcionar para a mãe as palavras no diário mexeram muito comigo, porque foi a única forma que ela encontrou de se aproximar da mãe que nunca conheceu — e da qual o pai fala muito pouco.
Eu sempre gosto muito de histórias narradas sob a perspectiva de crianças, porque os acontecimentos são sempre muito mais emocionantes justamente pela descrição sutil que elas fazem. Isso acontece em O Diário de Nisha também, mas realmente o que deixa a história mais tocante é a forma como Veera Hiranandani conseguiu retratar a falta que a menina sente da mãe. Tendo isso em vista, saliento que o livro em si é mais sobre os sentimentos de Nisha em relação ao conflito, seu crescimento no decorrer da trama, do que sobre o conflito em si. Isso, obviamente, não faz com o que o livro seja ruim, muito pelo contrário, o torna mais real. Afinal, até que ponto uma menina indiana de 12 anos conheceria as tensões religiosas?
Além disso, uma coisa que chamou minha atenção no passar das páginas foi a conexão de Nisha com a culinária. Foi muito interessante, além de conhecer a preparação de alguns pratos, ver como a protagonista se apoiava no ato de cozinhar como forma de se livrar dos problemas. Na Índia, o ato de comer em família é muito importante e Nisha se sentia feliz em prover o alimento para as pessoas que amava, até mesmo nos momentos mais difíceis, então gostei muito de acompanhar esses momentos.
Um ponto muito interessante é que Veera Hiranandani se inspirou na história da própria família para dar vida à história de Nisha. Em entrevista para o blog da DarkSide, ela conta que apesar de estar tão próxima dessa realidade, nunca aprendeu sobre a Partição na escola:
O Diário de Nisha é um relato tocante sobre uma família que, apesar de ter perdido quase tudo, nunca perdeu a esperança. É o retrato de inúmeras pessoas que conseguiram chegar ao seu destino, mas sem se esquecer daqueles que se perderam pelo caminho. Também não deixa de ser uma história sobre o amor e como ele une as pessoas apesar das diferenças.
Apesar de ter 12 anos, Nisha ainda é muito inocente, principalmente porque tentam a todo custo esconder as informações dela — e tudo o que ela sabe é seu irmão Amil que conta. Ela não entende porquê as pessoas têm que brigar umas com as outras, muito menos porque ela tem que sair de casa levando consigo apenas o que consegue carregar. Durante a longa caminhada até a Índia hindu, Nisha se depara com cenas horrendas envolvendo assassinatos. Os dois grupos eram ambos vítimas e agressores. Para vocês terem ideia, quando a migração chegou ao fim, em 1948, cerca de 15 milhões de pessoas havia se deslocado e mais de de um milhão de pessoas morreu enquanto tentava. Ver isso através dos olhos de criança foi muito doloroso.
Com o passar das páginas, que são direcionadas à mãe de Nisha, que morreu durante o parto, vamos descobrindo informações sobre a família que deixam a história ainda mais difícil de ser digerida. Além disso, Nisha nunca foi de falar muito, e acaba encontrando na escrita uma forma de se expressar. O fato de direcionar para a mãe as palavras no diário mexeram muito comigo, porque foi a única forma que ela encontrou de se aproximar da mãe que nunca conheceu — e da qual o pai fala muito pouco.
Eu sempre gosto muito de histórias narradas sob a perspectiva de crianças, porque os acontecimentos são sempre muito mais emocionantes justamente pela descrição sutil que elas fazem. Isso acontece em O Diário de Nisha também, mas realmente o que deixa a história mais tocante é a forma como Veera Hiranandani conseguiu retratar a falta que a menina sente da mãe. Tendo isso em vista, saliento que o livro em si é mais sobre os sentimentos de Nisha em relação ao conflito, seu crescimento no decorrer da trama, do que sobre o conflito em si. Isso, obviamente, não faz com o que o livro seja ruim, muito pelo contrário, o torna mais real. Afinal, até que ponto uma menina indiana de 12 anos conheceria as tensões religiosas?
Além disso, uma coisa que chamou minha atenção no passar das páginas foi a conexão de Nisha com a culinária. Foi muito interessante, além de conhecer a preparação de alguns pratos, ver como a protagonista se apoiava no ato de cozinhar como forma de se livrar dos problemas. Na Índia, o ato de comer em família é muito importante e Nisha se sentia feliz em prover o alimento para as pessoas que amava, até mesmo nos momentos mais difíceis, então gostei muito de acompanhar esses momentos.
Um ponto muito interessante é que Veera Hiranandani se inspirou na história da própria família para dar vida à história de Nisha. Em entrevista para o blog da DarkSide, ela conta que apesar de estar tão próxima dessa realidade, nunca aprendeu sobre a Partição na escola:
Meu pai e sua família tiveram que deixar sua casa em Mirpur Khas durante a Partição da Índia. Ouvi meu pai, minhas tias e tios contando essa história enquanto crescia – várias semanas depois da Independência, meu pai, seus quatro irmãos e irmãs e sua mãe decidiram deixar o Paquistão e passaram pela nova fronteira de trem. [...]
Eles perderam a casa e a comunidade onde viveram, mas conseguiram chegar em segurança do outro lado. Muitas pessoas não conseguiram. Quando fiquei mais velha, tive curiosidade, fiz pesquisas e me perguntei por que nunca aprendi sobre a Partição na escola, nos EUA, um evento tão significativo em nossa história global.
O Diário de Nisha é um relato tocante sobre uma família que, apesar de ter perdido quase tudo, nunca perdeu a esperança. É o retrato de inúmeras pessoas que conseguiram chegar ao seu destino, mas sem se esquecer daqueles que se perderam pelo caminho. Também não deixa de ser uma história sobre o amor e como ele une as pessoas apesar das diferenças.
Título Original: The Night Diary ✦ Autora: Veera Hiranandani
Páginas: 288 ✦ Tradução: Débora Isidoro ✦ Editora: DarkSide Books
Tá aí uma coisa que eu também não sabia! Como você disse, seria muito interessante que essas informações fossem passadas pra gente.
ResponderExcluirAcho muito legal essas histórias que são contadas a partir do ponto de vista de uma criança, ainda mais se forem em diários, acho que fica algo mais real, mais verdadeiro, porque ali ela escreve todos os seus sentimentos.
Adorei saber que existe esse livro por aí!
Ana!
ResponderExcluirPrecisamos de livros que tragam esperança aos nossos dias e que nos façam lembrar das nossas origens.
Adoro livros que contam histórias baseadas em fatos reais, sempre nos fazem aprender muito.
Importante leitua que nos traga conhecimento de novas culturas, cheiros, sabores e comportamentos diversos.
cheirinhos
Rudy
Rudy, acaba que a gente aprende mais que na escola em certos aspectos, né?
ExcluirAh, Nisha é um amor!
ResponderExcluirLi esse livro mês passado, e realmente foi uma leitura tocante. Eu achei interessante saber sobre o conflito porque eu não sabia nada até a leitura. E a narrativa me envolveu e comoveu.
Beijos
Ah Nisha!!! Um dos livros mais lindos da minha estante. E não falo isso somente pela parte física da obra não. Mas pela história, pelo enredo. Pela tristeza, mas também pela inocência da menina que traz um "troço" gostoso, chamado Esperança!
ResponderExcluirUma leitura que todos nós merecíamos fazer ao menos uma vida na vida sim!!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Nisha me lembra Ada de A Guerra Que Salvou Minha Vida. Meninas que tem sus vida completamente viradas do avesso por causa de Uma guerra e por causa de Partição de sua terra natal.
ResponderExcluirNisha tem a inocência e a esperança da infância.
Foi para a wishlist
Minha nossa, estou emocionada com a sua resenha. É tão bom quando alguém resolve tomar essa iniciativa de contar esses momentos que ocorreram na história e ficaram no esquecimento, tanto mais gente deveria saber. E é triste, tocante a história ser contada no ponto de vista de uma criança. Com certeza quero ter ler esse livro, também tenho um apego enorme pela culinária, e saber alguns detalhes como esses da cultura indiana é incrível.
ResponderExcluirJardim de Palavras
Oi Melissa, fico feliz que minha resenha tenha te tocado, muito obrigada! <3
ExcluirOi Ana,
ResponderExcluirTambém nunca estudei sobre este acontecimento na escola, o que é uma pena, pois mesmo a realidade sendo muito triste há muitos fatos na história que precisam ser ensinados. Eu já tinha visto a capa desse livro em alguns lugares, mas não tinha ideia sobre a trama. Eu também gosto muito de histórias narradas por crianças, pois, mesmo em meio as atrocidades, seus relatos são inocentes e nos tocam profundamente. Nisha descobriu uma forma de se abrir sem precisar falar em voz alta e descobrir que ela escreve para a mãe que não conheceu deve ser um momento bem marcante durante a leitura. Impossível não ficar interessada em realizar esta leitura, pois mesmo que haja tanta tristeza, há muito mais por trás dessa história. Com certeza o sentimento de esperança supera os sentimentos ruins.
ola
ResponderExcluirainda não li esse livro mas desejo muito
livros assim sempre traz algo bom ,as vezes reclamamos tanto da vida e quando a gente le um livro assim que narra uma realidade tão cruel ,tão desumana que a paramos para refletir o quanto devemos ser gratos por não ter que passar por tanta coisa .
otima resenha
Que legal ter sido inspirado na realidade da família dela, mas muito triste ao mesmo tempo. Não cheguei a ver nada disso na escola também, o que é um absurdo. A história toda parece ser bem interessante.
ResponderExcluirBeijos
Que incrível! Assim como você, eu também não sabia desses acontecimentos na Índia. Eu amei ler sua resenha, descrevendo o quão importante o conteúdo do livro é. Não só por contar essa história inspiradora, mas também falar de um assunto muito importante: imigração. Amei demais!
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirTive uma ótima professora de história que explicou nas suas aulas esse momento da Partição.
Falar ou escrever desse fato não é fácil, imagina para as famílias perder tudo, passar por momentos difíceis rumo ao novo destino.
A família quer poupar Nisha disso, mas como ela é esperta a maneira que encontra de ter a mãe mais perto e ter com quem desabafar, ela escreve as cartas no seu diário.
Quero muito poder ler, beijos.
Sua professora foi beeeem diferenciada, Lu, de verdade! A minha também era muito legal, aprendi demais com ela.
ExcluirOlá! É tão bom me deparar com um livro assim, com uma edição tão linda e que ainda tem muito a nos ensinar, sem dúvida lencinhos se farão necessários durante essa leitura.
ResponderExcluirOi, Ana!
ResponderExcluirAssim como você também nunca ouvi falar sobre esses acontecimentos na escola, sobre a divisão em duas partes da Índia, mas confesso que a trama de O Diário de Nisha não me interessou, não me deixou curiosa para desejar acompanhar a trajetória da família de pequena Nisha em sua migração forçada... Mas o fato de Nisha direcionar para a mãe as palavras no diário deve ser mesmo muito emocionante... Contudo, isso não me faz desejar ler O Diário de Nisha... Bjos!
Também gosto de narrativas assim pela emoção e as coisas sutis que a gente interpreta pelos olhos do jovem personagem. Chama atenção e te faz imaginar o que é crescer desse jeito, que tem pessoas que crescem assim, vivendo em conflitos, passando por coisas que a gente nem imagina. O fato de focar mais nos sentimentos dela que em conflito me chama atenção. Gosto disso, de poder saber mais o que sente. É um livro bonito pelo jeito e que deixa mensagens, deixa um amor pela personagem e pela história dela.
ResponderExcluirMesmo não sendo meu estilo de livro, acho importante as informações que podem conter nesse livro principalmente sobre história. Livro sobre a perspetiva infantil é muito diferente, pois a criança tem a imaginação pura e muitas vezes desconhecem o que realmente acontece, porém conseguem amenizar muutos fatos. Com certeza quero ler esse livro futuramente.
ResponderExcluirOii!
ResponderExcluirJá tinha visto resenha desse livro, mas lembrava muito pouco da historia. Ao ler agora fiquei com muita vontade de ler. Gosto de livros que são narrados por crianças porque e nelas que podemos ver a inocência e a verdade.
Blog: Tempos Literários
Oi, Ana
ResponderExcluirDesde o lançamento que quero lê-lo!
E agora com sua resenha fiquei ainda mais ansiosa.
A vida da Nisha e de seu povo parece triste e sempre com perigos e perdas, mas ela parece tentar fazer o melhor que pode pela família, mesmo ainda tão nova.
As partes sobre a mãe devem ser muito triste e sensíveis mesm...
Assim que der comprarei.
Bjs