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19 de novembro de 2020

De Quem é Esta História? | Rebecca Solnit

Já faz um tempo que meu interesse por assuntos envolvendo questões de gênero aumentou. Inclusive, o tema do meu trabalho de conclusão de curso foi violência contra a mulher e, durante meu período de pesquisa, aprendi inúmeras coisas. Então sempre quero ler qualquer coisa que vejo relacionada ao feminismo. E foi assim que conheci De Quem é Esta História?

O subtítulo do livro já diz tudo: "feminismos para os tempos atuais". Aqui, Rebecca Solnit reuniu 20 ensaios publicados por ela em outras mídias que tratam do feminismo sob diferentes temáticas: política, cidadania, assédio sexual e até mesmo a crise climática. Os ensaios são bem pautados na sociedade estadunidense, mas, no final das contas, a realidade lá é bem parecida com a nossa, até porque o machismo e o patriarcalismo não escolhem um só povo, uma só nação.

Algo que permeia praticamente todos os textos de Solnit é a relação entre representatividade e poder. Inclusive ela faz uma reflexão bastante interessante sobre o fato de nossas cidades serem permeadas de nomes masculinos. Por exemplo, moro numa rua chamada Antônio Paulino Neto; todas as escolas que estudei também homenageavam homens: Escola Estadual Coronel Coelho, Instituto Educacional Manuel Luiz Pego, Colégio Tiradentes... Os homens sempre são lembrados pelos seus "grandes feitos" enquanto as mulheres continuam sendo apagadas da nossa história.

Inclusive, esse assunto leva a outro ponto: quando lembradas, as mulheres nunca estão em posição de poder, ou seja, são sempre vistas apenas como mães, esposas, donas de casa... Não que isso seja errado, claro que não, até porque a maioria das mulheres vive essa vida dupla, aliada ao trabalho, mas temos que reconhecer que é um estereótipo imposto a nós. Nós nunca somos lembradas por feitos científicos, pela luta feminista ou por qualquer relação de poder. Percebem?

Rebecca Solnit se expressa muito bem e traz muita sinceridades aos seus textos, que conversam entre si. Apesar de discorrer sobre várias coisas, é certo que o tema central gira em torno da desigualdade entre homens brancos hétero-cis das outras camadas da população, que incluem homens não brancos, mulheres, mulheres não brancas, comunidade LGBT no geral, e como eles detém o poder, e, portanto, são perfeitos. Querem um exemplo muito, mas muito claro? Vocês se lembram do quanto a presidenta Dilma era criticada por sua falta de oratória durante seus discursos, mas o mesmo não acontece com o homem que está no poder agora, ainda que ele viva falando abobrinhas, absurdos e dez milhões de coisas desconexas por aí?

Aí chegamos em alguns pontos para se pensar: será que o título do livro é De Quem é Esta História? pelo fato de, majoritariamente, as histórias serem escritas e narradas por homens? Ora, se não podemos contar nossas próprias histórias, se nossas histórias não são nossas, como seremos lembradas? 😕

 Título Original: Whose Story Is This?: Old Conflicts, New Chapters  
Autor: Rebecca Solnit Páginas: 216
Tradução: Isa Mara Lando ✦ Editora: Companhia das Letras
Livro recebido em parceria com a editora

14 comentários :

  1. Estava aguardando ansiosamente por essa resenha, afinal te sigo no Twitter e queria ver o shade, super merecido, a aquele ser.
    Engraçado como passa batido essa questão dos nomes de ruas escolas e eventos serem em sua maioria nomes masculinos.
    Enquanto escrevo aqui, no JN, passa uma reportagem sobre as mulheres nas eleições 2020 .... é o sentimento que fica é agridoce

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    1. Amiga, fiquei até feliz com o resultado de alguns lugares nas eleições... Mas acho que tem que melhorar muito ainda, viu?

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  2. Muito interessante o tema que você escolheu para se aprofundar mais. Tem sido um ano tão complicado né? A gente liga a tv e se já não bastasse a pandemia, os casos de violência contra a mulher aumentam dia a dia e isso é triste demais.
    Por isso, estudar, aprender sobre e também isso do se questionar é maravilhoso.
    Primeira resenha que leio desse livro e com certeza, já quero muito a oportunidade de ler ele!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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    1. A pandemia acabou por escancarar muita coisa que já vinha acontecendo, né? Realmente muito triste. A gente tem que estudar mesmo pra saber como se postar diante de tanta coisa.

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  3. Tenho ficado cada vez mais interessada por livros sobre o feminismo também, acho um assunto extremamente importante. Ótima comparação sobre os presidentes e ótimo questionamento final.
    Beijos

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  4. Ana!
    Ainda essa semana estava conversando com o maridão sobre isso, estávamos assitindo um programa que falava sobre o voto feminino e a inclusão das mulheres na política... A mulher em diversas culturas e ainda hoje em muitas são ainda mais 'invisíveis', e por isso, livros como esse, são importantíssimos para que possamos ampliar a discussão e nos fazer cada vez mais presentes em todos os ramos da sociedade.
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Oi, Ana
    Lendo sua resenha logo já pensei nas escolas, creches e ruas da minha cidade. Nome de ruas são mais homens do que mulheres, nas escolas 2 Estaduais tem nome de homens, as municipais quase todas tem nomes de mulher.
    Um livro interessante e de suma importância para todos, principalmente nós mulheres que temos que lutar para ter direitos e sermos respeitadas.
    Beijos

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    1. Amiga, aqui na minha cidade custo me lembrar de uma ruazinha sequer com nome de mulher... Mas é o que a autora falou no livro né. Somos constantemente esquecidas.

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  6. Olá! Realmente o livro parece levantar ótimos questionamentos e mais uma vez, insisto, que esse tipo de livro deveria se tornar leitura obrigatória nas escolas e universidades, já passou da hora de discutimos esses temas e colocarmos em prática ações que possam mudar esses cenários.

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  7. Não seria um livro que leria assim de cara, mas vendo o que falou levantou umas questões bem interessantes. Tipo como até nas coisas mais simples o poder é jogado aos homens: nome de rua, nome de escola. Me identifiquei tanto com isso de escola porque todas que frequentei tinham homenagem a algum homem. E é isso, muito do que vira história é escrito por homem, se não feito por homem. E a gente sabe que não é assim. Muitas mulheres fizeram história, tem seu papel de poder mas não conseguiu ter o reconhecimento que merecem mesmo tendo conseguido lutar por esse papel de poder em questão. E que só isso já deve ser sido muito difícil. É uma coisa revoltante como atenuam problemas quando um homem é quem faz e a mulher se faz o mesmo? há! Apedrejada. Parece que isso nunca muda, por mais que a gente lute. Ver um livro que questiona todas essas coisas é sempre interessante porque é capaz de fazer qualquer um pensar a respeito de como funciona a vida em si. Talvez mudar atitudes. Faz mudar cabeças.

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    1. Acho que a gente realmente foge desse tipo de literatura. Justamente porque a gente quer ler coisas mais leves e tal. Mas é isso mesmo, a sociedade que a gente vive é muito cruel para com as mulheres. Tem que mudar MUITA coisa ainda pra ficar equilibrado, mesmo que muita coisa já venha mudando.

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  8. Não tinha pensado sobre essa questão das escolas e percebi que é muito verdade,sobre a história das mulheres infelizmente muitas histórias foram apagadas por homens que roubaram seus lugares,suas qualificações entre outras coisas,quero ler muito mais sobre o assunto e aprender também pra 2021 a meta é ler um livro por mês sobre algo que traga representatividade

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  9. Oi, Ana
    Nossa, que livro interessante!
    É verdade. As mulheres são sempre apagadas da história e quando aparecem são chamadas de loucas ainda.
    Isso que você falou da Dilma é algo que, nooossa, chega a dar náuseas como as pessoas foram machistas com ela e não falam nada pro podrão que está no lugar dela agora.
    Vou querer ler com certeza!
    Bjs

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  10. Oi, Ana!
    Também passei a ficar mais interessada em livros sobre o tema do feminismo e gostei bastante da indicação desse livro e parece que ele aborda questões importantes que todos devem ter conhecimento.

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