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15 de março de 2021

Sim, Não, Quem Sabe | Becky Albertalli & Aisha Saeed


Uma característica dos livros da Becky Albertalli que me admira muito é a representatividade. A autora está sempre preocupada em escrever sobre pessoas com histórias diferentes das nossas. E não estou falando só sobre personagens gays, como em Com Amor, Simon ou E Se Fosse a Gente? — escrito em parceria com Adam Silvera —, estou falando de qualquer realidade diferente, qualquer grupo de pessoas que é discriminado por algum motivo. É aí que entra Sim, Não, Quem Sabe, uma colaboração entre Becky Albertalli & Aisha Saeed.

Assim como outros livros que acompanham dois protagonistas, Sim, Não, Quem Sabe tem dois pontos de vista: Jamie, um judeu-americano super tímido que sonha em seguir carreira política, e Maya, uma muçulmana-paquistanesa-americana que se preocupa muito com seus costumes provindos da sua religião. O caminho dos dois se cruza quando são obrigados pelas suas respectivas mães a trabalhar como voluntários na campanha democrata para as eleições locais. O papel deles é bater de porta em porta com a intenção de convencer as pessoas a saírem de suas casas para votarem.

Uma das coisas que eu mais gostei é que tanto Maya quanto Jamie começaram esse trabalho meio que obrigados, mas com o passar dos dias e a partir dos discursos de ódio da parte republicana, começaram a se engajar de verdade com a causa. A partir de certo momento da narrativa, os dois são obrigados a lidar com o racismo que, inclusive, os atinge diretamente. É óbvio que foi a coisa mais fácil do mundo criar um paralelo com a situação política dos Estados Unidos na época em que Trump foi eleito, mas é muito bem possível ligar os acontecimentos do livro com o Brasil, ainda mais levando em conta a criatura que temos na atual presidência.
 
Como Jamie é judeu e Maya muçulmana, ambos possuem crenças que devem ser respeitadas. No começo do livro, por exemplo, Maya está participando do Ramadã, um mês super sagrado para os muçulmanos em que eles jejuam da aurora até o por do sol, como um momento de purificação, de arrependimento. Quem olha de fora talvez até não veja sentido em ficar tanto tempo sem comer, ou faz muitas críticas à prática e é muito preconceituoso com os costumes, então as autoras fizeram questão de mostrar a importância de cada prática religiosa para quem tem aquela fé.

Por mais que eu tenha adorado o pano de fundo político-social, em alguns momentos fiquei um pouco cansada com essa coisa da campanha... Eu só queria que o romance se desenvolvesse, que mostrassem mais do dia-a-dia dos personagens, pelo amor de Deus, que esses se beijassem logo (rs), mas muitas vezes me via lendo páginas e mais páginas de Maya e Jamie batendo na porta das pessoas, ou no escritório que funcionava de sede. Ainda assim entendo a importância do cenário para a construção de caráter deles — e o livro foi baseado na própria experiência das autoras durante uma eleição suplementar no distrito em que viviam.

Jamie e Maya são muito amorzinhos, é impossível não ser cativado por eles e pela relação que constroem. Sim, Jamie se sente atraído por ela logo de cara, mas as autoras preferiram que eles se tornassem amigos primeiro a partir dos ideais deles, da vontade que eles tinham de provocar mudanças e fazer diferente. Inclusive, acredito muito que o futuro do nosso país está justamente na mão desses adolescentes que têm fé que as coisas podem mudar. 

Como é um livro voltado para o público jovem, os personagens também têm problemas que todas as pessoas de 17-18 anos têm... Pais se separando, melhores amigas que estão se mudando e fazem novas amigas, discursos de Bat Mitzvah e várias outras coisas que, depois de anos, vemos que não eram o fim do mundo. Todas essas questões só fizeram que a narrativa ficasse mais fluida, e digamos que eu adoro um drama adolescente. 

Sim, Não, Quem Sabe, além de cumprir com seu papel de divertir, é uma ótima forma nos lembrarmos que em 2022 teremos novamente a chance de mudar o curso das nossas vidas através das eleições. Parafraseando as próprias autoras, nunca deixem de ter esperança e se agarrarem a ela. Nunca deixem de lutar pelos seus direitos e pelo que vocês acreditam. E, acima de tudo, votem consciente!

Título Original: Yes No Maybe So ✦ Autoras: Becky Albertalli & Aisha Saeed
Tradução: Viviane Diniz ✦ Páginas: 368 ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

14 comentários :

  1. Olá, Ana

    Nunca li nada dessas autoras, mas to com muita vontade de ler esse livro.
    Desde que li o livro da Malala, fiquei muito interessada em conhecer mais sobre outras religiões, já que percebi que eu tinha um certo preconceito, até por tudo que a mídia mostra.
    Acho que vou gostar bastante da parte política.

    Beijos

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  2. Sabe aquela autora que você se identifica de cara, mesmo sem ter lido? É meu caso com Becky.
    Ainda não li nada dela mas sei que vou me apaixonar pela escrita dela.
    Sim Não Quem Sabe é um YA com representatividade religiosa, ainda pouco trabalhada não é?
    E em momento melhor não poderia ter vindo

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  3. Ana!
    Gosto muito quando os romances trazem uma ambientação como essa de eleições, dá para entender muita coisa.
    E que bom que eles primeiro se tornaram amigos e depois partiram para o romance.
    Bem colocado suas observações sobre as próximas eleições, temos de pensar bem em que comandará nosso país por mais quatro anos...
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Não li Com amor, Simon, mas sempre vi em resenhas que é um livro muito bom. Então imagino que essa obra também seja muito boa, além de trazer tanta representatividade como você falou. Hoje é muito legal que os livros assim tenham destaque, não é? Nos faz pensar mais, conhecer realidades diferentes. Que bom que o livro agradou no final de tudo. Ao mesmo tempo que eu gosto de livros com personagens nessa idade, às vezes fujo um pouquinho até sentir saudade, sabe? HAHAHA mas gostei da indicação!

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  5. Fiquei sabendo sobre esse livro ontem e achei tão lindo o enredo. Não somente por trazer isso da representatividade,mas também a juventude e a política. Sim, temos o poder em nossas mãos, mas muitas vezes a gente pode dizer que isso não é problema nosso ou fingir que não temos nada com isso. Eu mesma já vivi uma época assim.
    Por isso, entendi e muito a importância desse livro e com certeza, quero demais poder ter ele em mãos!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  6. Ouvi dizer que a autora teve a ideia do livro com algo do momento politico atual mesmo, pra levar essa importancia também de votar e saber sobre politica pros jovens também. Gostei bastante. Lietura muito valida. Ainda nao li nada dessa autora, mas esse livro fiquei bem curiosa.

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  7. Olá! Eu adorei essa capa e o título do livro, gosto que as autoras se preocupem em nos trazer personagens bem diferentes dos que estamos acostumados a ler, também acredito que é possível fazer um paralelo sobre as eleições americanas com o atual cenário do nosso país, por isso, acredito que a leitura será ainda mais bacana, os dramas dessa fase da vida, talvez me desanimem um pouco, pois já deixei essa fase faz algum tempo (risos), mas ainda assim espero poder conferir essa história.

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  8. Olá Ana Clara!
    Eu amei a escrita da Backy em Love, Simon, mas não li as outras obras dela ainda. Gosto muito dessa representatividade das minorias, é tão difícil ver livros que retratem personagens com religiões diversas. Deve ter sido cansativo mesmo acompanhar a campanha eleitoral, afinal nós brasileiros não estamos acostumados a forma como as eleições funcionam nos EUA, eu também iria ficar na expectativa para o romance se desenvolver logo. Não vejo a hora de chegar ano que vem e podermos mudar a história desse país (mas nunca perco a esperança de que um impeachment aconteça antes).
    Beijos

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  9. Olá! Doida pra ler esse livro, gosto muito da escrita dessa autora, essa é a primeira resenha que vejo dele e fiquei ainda mais curiosa em conferi essa história. Bjs

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  10. Olá

    Uma boa indicação de livros com uma grande mensagem sobre o poder que temos em nossas máos especialmente os jovens e adolescentes visto que o livro tem como um dos temas a políticas eleição. Mas também traz uma mensagem excelente sobre o respeito que temos que ter sobre as pessoas de outras religiões.

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  11. Adoro o tom leve das histórias da Becky e ver mais um livro dela saindo já chama atenção. Parece mais um bem legal e gostei desse pano de fundo com politica, religião e etc. Tem muito pra mostrar quando falam de coisas assim, é legal pra conhecer outras coisas. Os dois personagens já deixam a gente na torcida também pra ver o que vai rolar com eles e gosto dessa coisa de desenvolver amizade, aquela demora pra acontecer o que a gente mais quer ver e etc. Acho fofo. Parece um livro gostoso de ler.

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  12. Oi, Ana
    Li três livros da autora e quero ler tudo o que essa mulher escreve.
    Gostei que o enredo tem um cenário político que faz lembrar de como fomos parar na merda em que estamos com o atual presidente. E podemos conhecer mais sobre duas religiões e claro acompanhar os personagens e seus dilemas.
    Estou curiosa para ler, beijos.

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  13. Oii Amiga,
    Fico sempre de olho nesse livro e achava que era um romance e tal, mas pelo visto é bem diferente do que pensei. Eu não sou muito chegada a politica, mas de vez em quando procuro me informar para saber das coisas até porque precisamos saber pelo menos o básico não é mesmo.

    Beijinhos: Tempos Literários

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