Quando eu me interessei por Última Parada, eu estava buscando um livro leve, fofo e que deixasse meu coração quentinho. A sinopse, apresentando uma história de amor entre duas jovens mulheres de tempos diferentes, me prometia exatamente isso (e um pouco mais). Posso dizer que Última Parada foi uma excelente leitura, apesar de não ter sido perfeita e de possuir altos e baixos.
No livro, conhecemos August, uma jovem que acaba de se mudar para Nova York para estudar. August está em busca da solidão das grandes cidades. Porém, o que ela encontra são colegas de moradia excêntricos e dispostos a torná-la parte do grupo. August vai se encaixando nesse ambiente e se adaptando a nova rotina, que envolve as aulas da faculdade e um trabalho na Casa de Panquecas de Billy Panqueca.
O plot do livro começa quando August conhece Jane no trem a caminho da faculdade. Jane é uma jovem linda e estilosa, vestindo camiseta branca e jaqueta de couro e usando fones de ouvido retrô. A atração entre elas é instantânea e, daí em diante, elas passam a se encontrar constantemente, sempre no trem da linha Q, o que surpreende August, afinal, em uma cidade tão grande e com tanta gente, quais as chances de sempre encontrar a mesma pessoa? As duas vão se conhecendo e August vai ficando cada vez mais encantada pelo charme e autenticidade de Jane, que parece fascinar todas as pessoas que a conhecem.
Muitas coisas acontecem, mas, o fato é que August descobre que Jane está presa no tempo (e no trem). Isso é algo que a sinopse nos conta. Porém, o livro demora para chegar nesse ponto. E esse, pra mim, é o primeiro ponto negativo do livro. Não que tudo antes disso seja desimportante. É nesse início que conhecemos melhor os amigos de August, ficamos sabendo mais sobre o seu passado, entendemos um pouco da sua relação com sua mãe e compreendemos quem é a nossa protagonista. Porém, o tempo que a história leva para chegar naquilo que já era revelado pela sinopse é mais longo do que precisava. Junto com essa demora para o enredo se desenvolver, há o fato de os capítulos serem muito grandes, tornando o ritmo do livro um pouco mais lento do que eu imaginava, apesar de sua narrativa fluida e sem muitos floreios.
Após a descoberta de que Jane pertence, na verdade, aos anos 70, ela e August começam a colher pistas e informações e investigar quem realmente é Jane, de onde ela veio e o que pode ter acontecido para deixá-la presa ali. A investigação é interessante e é muito divertido ir seguindo as pistas junto com as personagens. Apesar disso, parte dessa investigação é bem estranha e me incomodou, principalmente uma estratégia que elas têm para ajudar Jane a acessar suas memórias. Me senti incomodada pela August e senti que ela estava sendo usada.
Outro problema é que as personagens não se comunicam e isso é tão irritante, porque é um jeito tosco de construir um problema para a história. Boa parte do problema existe porque elas não conversam e não são sinceras. No entanto, a segunda metade do livro traz uma mudança bem agradável para a história, pois Jane e August enfim se abrem uma para a outra. E isso faz o livro mudar quase que completamente o tom e o ritmo. A investigação acelera, pontas soltas são conectadas e o romance entre elas fica cada vez mais fofo. Me peguei sorrindo feito boba durante alguns momentos.
Algo que eu não esperava foram as passagens mais adultas do romance, pois o relacionamento entre August e Jane é bem quente e as descrições das relações sexuais entre elas são detalhadas.
Jane e August são incríveis, cada uma à sua maneira. Eu adorei como a Jane traz esse ponto de vista dos anos 70, quando os direitos da comunidade LGBTQIAP+ estavam sendo conquistados com muita dificuldade. Jane é uma punk, asiática e sapatão (como ela mesma se descreve) vivendo nos anos 70, participando de protestos anti guerra, lutando por seus direitos, batendo cabeça em shows de rock e beijando meninas na chuva. Ela é forte, ousada e, ao mesmo tempo, doce. Acho que o livro poderia até ter explorado mais essa personagem. August, por outro lado, tem uma personalidade mais sombria, principalmente baseada em sua relação com sua mãe, que passou boa parte da vida tentando desvendar o desaparecimento do irmão (tio de August).
As amizades de August são maravilhosas, mas não consegui vê-las acontecendo. Foi como se num dia eles estivessem se conhecendo e, no outro, já se amassem. Esse desenvolvimento das relações interpessoais poderia ter sido melhor trabalhado. Por outro lado, as amizades descritas no livro são tão reais e autênticas que eu fiquei querendo fazer parte daquele grupo de amigos. Os diálogos são naturais, as piadas são engraçadas e o livro é cheio de referências divertidas.
Apesar dos pequenos problemas que eu encontrei, essa leitura foi muito agradável. É um livro gostosinho pra passar o tempo. Vá sem muitas expectativas e apenas curta a leitura. Em muitos momentos, essa história me lembrou as fanfics, com aquela atmosfera de romance intenso e parcialmente platônico e temas fantásticos como pano de fundo. E como uma boa amante de fanfics, eu amei isso.
O mistério conseguiu me manter interessada. É o tipo de livro que não dá para abandonar, porque não dá pra ficar sem saber o final. Como o problema vai ser resolvido? Jane vai voltar para os anos 70, retomando sua vida normal e desfazendo esse casal pelo qual a gente se apaixonou? Ou vai ficar no presente, perdendo de vez tudo o que lhe era conhecido, mas podendo, finalmente, viver um romance de verdade com August, fora dos vagões de trem? Ou há uma terceira opção? E se algo der ainda mais errado? Enfim, essas e outras perguntas rondavam a minha mente durante a leitura e me fizeram querer chegar ao final o mais rápido possível. As últimas 100 páginas foram deliciosas de ler e eu até me emocionei um pouquinho.
A explicação do que aconteceu com Jane flerta com conceitos científicos e preciso dizer que eu gostei. Consegui imaginar perfeitamente a cena em um filme e acho que seria bem legal, no estilo dos super-heróis do cinema.
Um dos maiores méritos do livro, com certeza, é a representatividade queer. A história nos apresenta a personagens incríveis, carismáticos e de todos os tipos. Representar personagens LGBTQIAP+ com tanta naturalidade e segurança só poderia vir de alguém como Casey McQuiston, bissexual e não-binária.
O saldo final, para mim, é positivo. Minha dica é: resista à primeira metade do livro, que é um pouco mais lenta, pois a segunda metade apresenta uma melhora gigante, tanto no ritmo quando no desenvolvimento da história. A edição da editora Seguinte está belíssima. A capa é muito fofa e transmite bem a vibe do livro (inclusive, parece capa de fanfic kkkkk). Diagramação e tradução ótimas. Recomendo pra quem, assim como eu, está em busca de uma leitura leve, fofa e cheia de representatividade.
Para finalizar, quero deixar esse trecho que Casey incluiu em seus agradecimentos e que eu acho importantíssimo:
A todos os leitores, sou uma das muitíssimas vozes queer na ficção, mas, embora sejam muitas, ainda não é suficiente. Cada um de nós merece ser ouvido. Quando fechar este livro, busque um autor queer de quem você nunca ouviu falar e compre o seu livro. Não pare com uma obra só. Existem muitos para amar, e apoiá-los cria um espaço para outros autores queer publicarem também.
Ajude o blog comprando o livro através do nosso link!
Eu recebi esse edição da TAG e ainda não li... A sua resenha me deixou com vontade de ler esse livro.
ResponderExcluirhttps://expressoliterarios.blogspot.com
Mesmo com todas suas observações, que achei muito válidas, fiquei bem interessada, tanto pela representatividade como pela parte da ficção.
ResponderExcluirFiquei bem intrigada de verdade.
Espero poder ler.
cheirinhos
Rudy
Eu ADOREI VBSA, e a escrita da Casey.
ResponderExcluirE assim que vi esse lançamento fiquei mega interessada.
É o clichê com representatividade que tanto precisamos.
Vou resistir sim, Ana, a primeira parte!
Meu maior medo em relação a este livro era esse: o começo do livro que parece meio que engrenando, quase parando(ao menos, foi o que li em muitas resenhas)
ResponderExcluirPor isso, já adorei sua dica da perseverança rs pois com toda essa representatividade e leveza,mesmo sendo assunto sério,há algo de muito bonito que merece ser lido.
Agora já sei bem o que vou encontrar quando ler e quero muito fazer isso!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
A história é interessante: como uma pessoa fica presa num lugar e no tempo, e ainda assim conseguirá viver um amor? O final parece previsível, porém desejável.
ResponderExcluirMas pelo visto tem uns pontos fracos no livro que serão uma prova de resistência.
Danielle Medeiros de Souza
danibsb030501@yahoo.com.br
Olá! Que o comecinho do plot me lembrou a Casa do lago, nem imagino o porquê (risos), mas parece ser um livro muito bacana, apesar dessa demora no desenrolar das coisas, o romance entre as personagens parece ser daqueles fofos e ótimos de acompanhar, fiquei curiosa para a resolução desse mistério aí.
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirQue bom que apesar de alguns pontos negativos da trama o livro conseguiu te cativar.
Não faz o meu estilo de leitura pois não curto esse tipo de narrativa com viagem no tempo .Acho confuso .
A capa é muito fofa e muito linda!!
ResponderExcluirBeeem curiosa em ler essa historia, li muitos pontos positivos dela e sim, alguns nao taao bons, mas acho que a galera mais gostou do que o contrario. Curiosa pra conhecer esses dois personagens!
Olá Rudy!
ResponderExcluirJá tinha visto esse livro e achei a capa super fofa, e agora vendo essa resenha, apesar dos pontos negativos apontado ainda continuo super curiosa em conferi essa história.
Bjs