A Serpente de Essex tem muito do que costuma me agradar em um livro: romance ambientado na era vitoriana, com mistério, protagonismo feminino e debates políticos e filosóficos. Como uma amante das irmãs Brontë e Thomas Hardy, eu não poderia deixar esse lançamento da Intrínseca passar. Esse é o segundo romance de Perry, vencedor de prêmios e adaptado para série pela Apple TV+.
O livro começa com a protagonista, Cora, ficando viúva e, consequentemente, se vendo livre de um relacionamento abusivo e violento. Com a recém adquirida liberdade, Cora se permite explorar um antigo interesse: a paleontologia. Ao se mudar e se instalar em seu novo lar, Cora toma conhecimento de boatos envolvendo uma criatura que aterroriza os habitantes, a chamada Serpente de Essex. Cética e naturalista, Cora toma para si a missão de provar que a criatura nada mais é do que uma espécie ainda não documentada.
A serpente serve como ponto de partida para o romance, mas sua presença vai se tornando mais dispersa conforme a história avança. Em lugar desse mistério, outras questões vão surgindo e roubando a cena. Reflexões sociais e políticas, o debate entre ciência e religião, as relações humanas e familiares e o papel da mulher são apenas algumas das questões que o livro explora.
Um dos pontos altos pra mim foi a relação entre Cora e Will, o vigário do lugar. Incrédulo sobre a existência da Serpente, Will tenta acalmar os fiéis enquanto debate saberes cientificos e fé com Cora. Suas ideias divergem em quase tudo, mas isso não impede que eles se admirem e se desejem intensamente. Aquele clichê que nunca perde a graça, né?!
A Serpente de Essex é uma história que conta com mulheres à frente do seu tempo, ou seja, mulheres que não se curvam silenciosamente aos costumes da época em que vivem. Cora deseja estar no meio acadêmico, mas ela não é a única mulher distinta do romance. Martha, sua fiel amiga e babá de seu filho, é outra personagem cativante que a autora nos apresenta. Inclusive, uma fala de Martha ficou muito marcada pra mim. Ao recusar um pedido de casamento, ela explica:
Não peça que eu abrace uma instituição que me põe algemas e deixa você livre. Existem outras maneiras de viver — existem laços além daqueles aprovados pelo Estado! Vamos viver como pensamos — livres e destemidos —, vamos nos prender tão somente pelo afeto e pela defesa de um propósito em comum.
A escrita de Sarah Perry é, por si só, uma viagem ao passado. Descritiva e rica na ambientação, a autora nos transporta para os cenários, para os charcos em meio a neblina, explorando também os sentimentos de seus personagens e tornando o leitor um espectador íntimo de cada pensamento e sensação.
Em alguns momentos, eu me senti desconectada da história. Acredito que pelo alto número de assuntos trabalhados. Quando eu me sentia ligada a um plot, a história mudava de direção e explorava outro tema. Mesmo assim, com um pouco de paciência, voltamos a encontrar os temas apresentados pela autora e, ao fim, ela consegue fechar todas as pontas muito bem. Mesmo assim, acho que a autora abriu mais debates do que foi capaz de explorar cuidadosamente.
Também senti falta de ver um pouco mais sobre o filho de Cora, um jovem emocionalmente distante e misterioso que me deixou intrigada. Me questionei se ele seria uma pessoa neurodivergente e fiquei com vontade de descobrir mais sobre ele. Mas entendo que esse não era o foco do romance. É até difícil ter certeza sobre qual é o foco do livro. Todos os temas apresentados são importantes e interessantes, mas nenhum recebe a atenção que merecia. Ainda sinto que o tema melhor trabalhado foi o envolvimento amoroso entre Cora e Will. Como romance romântico, A Serpente de Essex funciona primorosamente.
Fiquei com vontade de assistir a série, pois acho que é uma história que pode funcionar melhor ainda no audiovisual. E acredito no potencial do ator Tom Hiddleston para interpretar o vigário Will.
A edição da Intrínseca está linda. A editora manteve a capa original e deixou com aquela textura áspera que ela tem usado frequentemente em seus livros e que eu adoro.
Gostei da mistura: romance, história, mistério e muito mais.
ResponderExcluirEsse quote é impactante mesmo!!! Me deixou bem reflexiva
Eu preciso de um tempo para ler romances assim, pois enjoo um pouco rápido. Como agora estou lendo mulherzinhas preciso ler primeiro alguns contemporaneos pra depois pegar um desse estilo. Mas gostei da indicação!
ResponderExcluirPriscila!
ResponderExcluirA começar pela linda capa, todo enredo parece muito bom.
Gosto quando há uma mistura de estilos, torna o livro bem interessante, mesmo que tenha muitos plots difíceis de serem seguidos.
cheirinhos
Rudy
Fiquei um pouco surpresa com a velocidade que a intrínseca trouxe esse livro por Br quando soube que o tom hiddleston iria fazer a série fiquei um pouco triste achando que não iria nunca lê o livro ainda bem que eu estava enganada.
ResponderExcluirEntão, esse eu vou fazer o caminho inverso. Verei a série primeiro. Sabe quando você olha um livro e ele não te agrada? rs
ResponderExcluirNada contra a edição que está belíssima, mas eu li em alguns sites, mais ou menos o que você disse: o visual está prendendo mais, fora que tem um time de atores maravilhosos.
Quero ainda ler? Sim..mas só depois de ver rs
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Gosto de livros assim que possuem mulheres forte a frente de seu tempo, e também de livros que a princípio nos deixam confusa sem saber do que se trata, e aí vem uma mente brilhante e descobre, sendo que às vezes não é nada do que parece.
ResponderExcluirDanielle Medeiros de Souza
danibsb030501@yahoo.com.br
Gosto demais dos livros da Intrínseca. Ainda não conhecia esse e também desconhecia a adaptação, mas já estou interessado. Acho interessante a mistura de tantos elementos envoltos nessa aura de mistério que o livro carrega. Tudo parece bastante interessante, e talvez a reunião de tantos elementos possa nos dispersar às vezes, mas eu ainda prefiro assim do que livros que seguem uma mesma linha até o final, pois correm o risco de se tornarem repetitivos.
ResponderExcluirja adorei a comparaçao com autoras como as bronte, e essa vibe mais inglesa, to bastante curiosa em ler esse livro e espero gostar.
ResponderExcluire sim, a adaptaçao parece ser bastante boa. quero muito ver tb.
Ola
ResponderExcluirAinda não tinha lido nada a respeito desse livro e confesso que fiquei na dúvida se desejo ou não algum dia ler .Não concordo em parte com o pensamento da personagem Marta.E também não curto livros que tem tantos assuntos que parece que a autora não soube dar importância a um deles.Tem que ter equilíbrio .Nem assunto de mais nem pouco assunto.
Olá! Temos um livro que tem vários temas que nos fará refletir um bocado, e mesmo que esse excesso de assuntos possa dificultar um pouco a leitura, fiquei bem curiosa para conferir essa história que chamou minha atenção, principalmente por essa semelhança com os romances das irmãs Brontë.
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