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5 de setembro de 2023

Anatomia, uma história de amor (com a medicina cirúrgica), de Dana Schwartz


Crepúsculo pode ser considerado literatura gótica? 🤭 Brincadeiras à parte, antes de Anatomia, tive contato com esse gênero literário através de Marina, do Zafón, e Drácula, de Bram Stoker. De fato, é um romance que compartilha muitas características com essa vertente literária, porque é bem melancólico, obscuro e misterioso, ainda que mantenha um tom bastante juvenil. Mas será que esse livro conquistará os fãs da literatura gótica raiz?

Aqui, acompanhamos Lady Hazel Sinnett, uma jovem completamente diferente das outras da sua idade. Enquanto todas estão preocupadas com bailes e pedidos de casamento, Hazel quer se tornar médica cirurgiã. Porém, estamos falando de Edimburgo em meados de 1800, época em que mulheres não podiam ter profissões ditas masculinas. Seria, então, um sonho impossível? Acontece que essa protagonista não se dá por vencida tão facilmente: para conseguir estudar na Sociedade Real de Anatomistas, ela se veste com as roupas do irmão morto e finge ser um jovem cavalheiro.

Tudo ia muito bem, obrigada, até ela ser descoberta e expulsa. Afinal, que ultraje uma mulher achar que tem inteligência o suficiente para ser cirurgiã, não é mesmo? Mas Hazel é de fato superior a todos os outros estudantes, então consegue fazer um acordo com o Dr. Beecham, neto do maior médico cirurgião de todos os tempos. Ela estudaria sozinha e teria autorização para fazer o exame real. Se fosse aprovada, atingiria seu maior objetivo. Caso contrário... Bem, vocês podem imaginar. A grande questão é, para estudar anatomia, Hazel precisa de corpos, né? É aí que seu caminho cruza definitivamente o de Jack Currer, um ladrão de cadáveres, que, para sobreviver, rouba corpos em cemitérios e os vende a quem interessar possa. 

Eu sabia que seria bem difícil escrever esse texto, porque eu gostei e não gostei desse livro. Vou tentar explicar da melhor forma possível: eu adorei o clima gótico, a ambientação, o enredo geral e os personagens, mas, ao mesmo tempo, a autora comete vários deslizes na escrita que geram um certo incômodo. Por exemplo, apesar de prender, a narrativa é bem lenta. Até chegar no ponto em que Hazel é expulsa e começa a comprar os cadáveres do Jack, já se passou praticamente metade do livro. Nesse sentido, acho que a sinopse acaba entregando demais.

Outra coisa é que desde o início da trama nos são apresentados elementos fantasiosos. Por mim, tudo bem, desde que eles sejam explicados. Nesse quesito, Dana Schwartz dá uma escorregada, e isso está diretamente ligado ao que eu disse no parágrafo anterior. Acho que a autora se demora tanto nessa primeira parte da história — a gente literalmente sabe o que vai acontecer, só fica esperando mesmo — que acaba sobrando pouco tempo para desenvolver os acontecimentos da metade para o final. Dessa forma, ela toma algumas decisões previsíveis e encurta caminhos com alguns elementos que não convencem muito bem. A minha esperança é que ela consiga amarrar essas situações no segundo volume da duologia, que já está em pré-venda na gringa. 

É claro que Anatomia não se resume a isso. Existem inúmeros pontos positivos, a começar com a jornada da protagonista. Hazel é diferente e tem consciência disso. Ela sabe que seguir nessa carreira não vai ser fácil, que a sociedade não vai confiar nos seus conhecimentos, mas insiste mesmo assim. Para ela pouco importa seu papel como aristocrata, ela quer ajudar as pessoas e vai fazer isso custe o que custar. Eu gostei demais desse ponto do livro, principalmente porque Hazel estava sempre fazendo o oposto do que esperavam dela, mas sempre soube interpretar o papel de moça casta em busca de um casamento caso fosse necessário manter as aparências. 

Além do mais, acho que a separação de classes foi muito bem retratada por Schwartz. Enquanto Jack tinha que roubar corpos — de pessoas pobres, é claro — para conseguir o mínimo para sobreviver, Hazel conseguia manter inúmeros pacientes clandestinamente em seu castelo sem precisar se preocupar minimamente com os custos e consequências disso. Duques, marqueses e condes conseguiam comprar quaisquer órgãos que eventualmente precisassem, ao passo que os pobres eram obrigados a vender os seus para terem o que comer no fim do dia. Acredito que a autora foi certeira ao mostrar esse lado podre da alta sociedade. 

O assunto principal desse livro é o sonho da Hazel e os primórdios da medicina cirúrgica, então existem muitas cenas bem descritivas sobre o assunto. Chega a ser bizarro, se comparado com toda a tecnologia que existe hoje. Para vocês terem noção, as cirurgias eram feitas com as pessoas acordadas, sem anestesia nenhuma, gente! Apesar disso, existe um romance que, mesmo clichê, conquista bastante pela simplicidade e pode trazer muito mais leitores para essa história, principalmente os mais jovens. Em contrapartida, acho que para os amantes de obras como Frankenstein ou O Médico e o Monstro, por exemplo, essa parte pode ser mais desinteressante. 

O final de Anatomia é bem 8 ou 80. Eu particularmente não gostei muito, mas a verdade é que me deixou curiosa para ler o segundo volume e ver como a Dana Schwartz vai trabalhar os acontecimentos finais e desenvolver algumas questões relacionadas à parte da medicina. Immortality ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.

Título Original: Anatomy ✦ Autora: Dana Schwartz
Páginas: 320 ✦ Tradução: Guilherme Miranda ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora

9 comentários :

  1. Uma premissa que poderia render uma história e tanto, não é?!
    Em uma época em que o casamento era uma das únicas realizações da mulher, uma jovem que ousa pensar fora da caixa e sonhar com uma profissão como medicina é Ousado demais. E o toque Gótico dá uma pauta vibe ao livro.
    Como boa romântica, gosto de saber que tem romance

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    1. E se a gente pensar que até hoje mulheres sofrem preconceito em algums profissões, né?

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  2. Pois eu acho facil q ia gostar do clima gotico, os personagens, tb.. mas fico assim com a questao da narrativa poois n é a primeira resenha q vejo falar disso.
    Preciso ler né... espero gostar!

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  3. Olá
    Achei interessante o fato da autora trazer essa diferença brutal entre a sociedade,o ser humano sempre se achando uns melhores do que os outros.
    A personagem parece ser muito determinada,que corre atrás do que quer .
    Ótima resenha.

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    1. Também achei essa questão interessantíssima... Dá pra gente linkar demais com os dias atuais, inclusive.

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  4. Eu amo muito esse clima denso, beirando o gótico sombrio!
    Me lembrei da série Rastros de Sangue, tá, só li o primeiro, mas é uma mulher fazendo autópsias e isso para a época...nosso Deus!
    Já quero ler com certeza!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  5. menina eu não tinha ideia sobre o que era o livro, fui descobrir no seu insta pq eu nunca tinha lido nada sobre ele. eu particularmente acho essa capa de um charme sem igual, compraria só pela capa kk
    sobre a história achei bem interessante principalmente pelos elementos fantasiosos, espero ler e gostar da leitura. esse ano a editora tem trazido coisas bem interessantes pro brasil.

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    1. Essa capa é o suprassumo da beleza, acertaram demais!
      É um bom livro, só esperava um pouco mais mesmo (e a culpa é toda minha, né?) kkkkkkk

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  6. A capa é linda! Ainda não li livros clássicos góticos ou parecidos com algo gótico. "Anatomia" Parece uma história interessante .

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