Em dezembro de 2023, a Seguinte, selo da Editora Companhia das Letras, lançou o quinto volume de Hearstopper, série em quadrinhos que se tornou fenômeno mundial e já tem adaptação na Netflix. Apesar de Hearstopper mostrar um romance fofo e quase utópico entre dois garotos, a história também aborda temas importantes e sérios, como saúde mental, descoberta da sexualidade, relações familiares, bullying e transtornos alimentares. A saúde mental dos personagens é sempre cuidadosamente abordada por Alice Oseman, seja mostrando os impactos emocionais da descoberta da própria sexualidade, de se apaixonar pelo melhor amigo, de se identificar como trans, de não ter apoio familiar ou de estar em um relacionamento abusivo.
Charlie, por exemplo, que, desde o princípio, dava sinais de que não tinha uma relação completamente saudável com a comida, mostra como uma pessoa que convive com com um transtorno alimentar precisa de suporte e de uma boa rede de apoio. A anorexia nervosa é um transtorno alimentar que se caracteriza pela restrição de ingestão calórica, medo intenso de ganhar peso e uma perturbação no modo como o peso e o próprio corpo são vistos. Apesar de Charlie nunca ter revelado uma intenção direta de emagrecer ou um medo de engordar, ele tem muitos comportamentos que caracterizam uma relação disfuncional com a alimentação e um possível comer transtornado. Charlie pula refeições frequentemente, mente que já comeu quando lhe oferecem comida, já chegou a desmaiar por restrição de alimento e já afirmou que não se alimentar é uma forma de se manter no controle, e essa é uma fala comum entre pessoas com transtornos alimentares.
Outro tema de saúde mental que a série aborda é a automutilação. A automutilação não suicida, ou seja, quando não há intenção de morrer, é bastante comum em pessoas com transtornos alimentares. Diversos motivos podem estar por trás da automutilação, incluindo autopunição por erros e falhas que a pessoa acredita ter cometido ou até como uma forma de reduzir o estresse, a tensão e a ansiedade.
Oseman sempre me surpreende com seu domínio sobre temas de saúde mental. É evidente que a autora toma todos os cuidados necessários na hora de elaborar suas históricas. No entanto, seu maior trunfo é mostrar, de forma simples e acessível, o valor da rede de apoio. Basta lembrar que Elle descreve sua pintura que retrata seu grupo de amigos como um lugar seguro. A rede de apoio nada mais é do que ter pessoas em quem você confia e que sabe que poderá contar com elas se precisar. Redes de apoio reduzem as chances de tentativa de suicídio, por exemplo, mas não apenas isso: redes de apoio aumentam a eficácia de tratamentos psicológicos e psiquiátricos. Esse suporte no tratamento também pode ser observado em Heartstopper: quando Charlie é internado, quando Nick está lidando com se abrir para seus familiares e amigos a respeito de sua sexualidade ou quando Elle passou pela transição (momento que não é mostrado na série, mas que é muito comentado pelos personagens).
Uma rede de apoio sólida tem o poder de reduzir as chances de desenvolver um transtorno mental e melhorar e acelerar o tratamento. E quem não gostaria de ter o grupo de amigos retratado em Hearstopper, né?! Só de assistir e ler a gente já se sente acolhido e parte de algo maior. Me alegra saber que são obras assim que os jovens estão lendo, que mostram relações saudáveis, diversidade e aborda temas importantes.
Não li as HQS mas pela sua resenha e por outras que já li mostra que a autora tem uma grande responsabilidade ao tratar de temas sérios como a saúde mental.
ResponderExcluirótima resenha ,parabens
ResponderExcluirEu ainda não tenho o quinto volume da série, mas tenho as quatro primeiras e esses pontos abordados são de extrema importância!
ResponderExcluirO romance é lindo, o quebrar barreiras, o curar almas feridas. Mas o estar alerta ao sentir do outro, aos sinais tão claros ou não, em muitos casos!
Amei o post e deu vontade espalhar pra todo mundo!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Que post lindo.
ResponderExcluirEsse ano pretendo ler Heartstopper....vou ler na sequência. Do volume 1 ao 5, incluindo os livros extras. Depois parto pra série.
Sinto que além de fofa, seta uma leitura muito emocionante
menina eu gosto muito de como a autora aborda os temas sensíveis, ela realmente tem um cuidado e isso de rede de apoio é muito ruim. em vários momentos me irritei com a mãe do charlie que não entende como funciona a doença, agora imagina quantas pessoas não agem que nem ela por ai. se não fosse o resto da família, os amigos e um médico acompanhando ele poderia se afundar muito mais.
ResponderExcluiramei a reflexão
aiii eu amo os assuntos que traz nessa serie.. e é de uma naturalidade, sem forçar nada. acho que o 5 como disse antes, deve ser ate melhor q o 4. alias cada volume fica melhor q o outro e ja sao maravilhosos cada um
ResponderExcluirAna!
ResponderExcluirMuita vontade de ler a série.
Li um livro dela, que até tem a presença das personagens da série, porém esperava mais, sabe?
cheirinhos
Rudy
Olá! E é por isso tudo que eu acredito que esses livros deveriam ser trabalhados com alunos do ensino médio nas escolas, acho que é uma ótima maneira de trabalhar temas tão delicados e complexos com esse grupo.
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