A Deusa em Chamas, conclusão da trilogia de sucesso de R. F. Kuang: "Sou a força da criação. Sou o fim e o começo. O mundo é uma pintura e eu tenho o pincel. Sou uma deusa"

Oi gente! Aqui é a Gabs, do Podcast Terminei! Mais uma vez tô aqui no Roendo Livros para fazer uma resenha! Hoje venho falar sobre o final mais que esperado para a trilogia de fantasia mais comentada nos últimos tempos, A Guerra da Papoula. Depois de muito tempo do lançamento, finalmente consegui terminar essa trilogia da R. F. Kuang. E não digo isso porque a série é ruim ou demorada, mas sim pela perfeição que ela tem em apresentar e criar os fatos históricos e ficcionais, o que demanda um tempo maior de leitura.

A Deusa em Chamas, último livro da trilogia, começa exatamente onde A República do Dragão acabou: Rin tentando entender o caos que sua vida se tornou após lutar numa guerra civil a fim de salvar a nação de invasores estrangeiros, e mesmo assim ser traída por seus maiores aliados. Seu próximo passo, agora, é retornar para o lugar em que cresceu, as províncias do sul de Nikan.

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O ódio era algo muito peculiar. Corroía suas entranhas como ácido, tensionava todos os músculos em seu corpo, fervia seu sangue a ponto de fazê-la pensar que a cabeça se partiria ao meio. Ainda assim, motivava tudo o que ela fazia. De certa forma, o ódio era como o fogo e, quando não se tinha nada além dele, também servia como fonte de calor — p. 30

A grande questão é que, dessa vez, Rin parece entender melhor seu papel e o que deve fazer: liderar o sul contra a República do Dragão e matar aquele que ela amou: Nezha. O problema é que ele agora está mais forte, além de ter um exército muito mais bem preparado. O Jovem Marechal tem o Dragão, seu deus xamânico, como aliado, que também é o pior pesadelo da Fênix, já que ele controla a água.

O livro é dividido em três partes e inicia com Rin sendo novamente traída e usada, e quando você pensa que ela já sofreu de tudo, pode esperar que vem mais bomba. É inacreditável quanta coisa horrível a protagonista já passou, mesmo com a pouca idade, e como ela conseguiu sobreviver a tudo. A segunda parte, por outro lado, trás uma Rin um pouco mais focada e entendendo seu papel. A gente só fica um pouco desconfiado porque personagens que a gente odeia retornam, e parecerem ser apenas eles os únicos aliados possíveis para vencer a guerra.

Suas traduções eram dois lados da mesma verdade: o universo era um sonho acordado, uma coisa frágil e mutável, um borrão de cores moldado pelos caprichos imprevisíveis da divindade — p. 485

Entendemos que água e fogo não se misturam, mas os hesperianos têm tecnologia, coisa que os sulistas não têm, e contra isso é muito mais difícil de lutar. Inclusive, toda vez que eu vejo aquele discurso de extrema direita de "povo armado não será escravizado" me vêm as cenas desse livro. Eles tinham armas, eles tinham até estratégias de guerra, mas não tem como você usar pedra contra quem tem pólvora. 

É claro que, além da guerra, o livro é sobre como uma amizade, principalmente entre três pessoas, pode mudar o rumo de um reino. Como a influência, a pressão familiar, um legado e uma história, podem te levar a escolher trair e ser sozinho. Além disso, fala muito sobre o medo de perder a identidade, que é bem retratado nos primeiros livros, mas presente nesse também. Nikan quer ser um reino independente, pode ter seus conflitos interno... Mas ser apagado por estrangeiros, que não falam sua língua, que te tratam como inferior, que olham suas crenças como lixo? Nunca.

Ela havia arrasado um país, destruído a Trindade e comandado um exército. Para todos os efeitos, ela se tornara uma deusa viva. Se podia fazer tudo isso, por que não poderia governar um país — p. 531

E quando você acha que as coisas podem ficar calmas, que a guerra acabou, não, ela é só o início. Rin não tem paz, mas eu gosto disso na escrita da autora, ela não faz como outros autores de fantasia: acabou a guerra, agora vem a paz. Não, Rebecca mostra, principalmente na terceira parte do livro, o que acontece com quem vence, quais são as atribulações que vai passar, ainda mais quando não se é o favorito para a vitória. Os corpos, as perdas, os roubos, as manifestações, todas as reformas a serem feitas, uma nação a ser restaurada...

Acho que A Guerra da Papoula é uma série de fantasia que também pode ser considerada um "estudo clássico" de como uma guerra funciona. A gente consegue entender muito bem o que sobra, que não é só a vitória, mas também todo o caos. E aqui vai um spoiler, para os curiosos: o final não poderia ser outro. Você pode até tentar me convencer que tinha outra saída, mas não tinha. E a gente já sabia disso desde o primeiro livro. A única coisa que me conforta, no fim, é a certeza que alguém amou Rin e a escolheu. 

Essa série é o famoso: me destruiu, 5 estrelas. E eu lerei tudo que essa autora escrever  — inclusive já vou começar Babel, lançado também pela Intrín em fevereiro desse ano. E aí, me contem, quem aí já conseguiu chegar ao final dessa guerra?

Título Original: The Burning God ✦ Autora: R. F. Kuang

Páginas: 592 ✦ Tradução: Helen Pandolfi & Karine Ribeiro ✦ Editora: Intrínseca

Livro recebido em parceria com a editora

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