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15 de março de 2024

Os Registros Estelares de uma Notável Odisseia Espacial, terceiro volume da Série Wayfarers, de Becky Chambers


Os Registros Estelares de uma Notável Odisseia Espacial é o terceiro volume da Série Wayfarers, ficção científica criada por Becky Chambers. Ainda que ambientado no Universo criado pela autora, do qual já estamos familiarizados, este é o livro mais próximo de mostrar nossas vidas reais. Isso porque acompanhamos a Frota do Êxodo, um grupo de humanos que, há muitos anos, abandonou uma Terra praticamente morta em busca de novas condições de sobrevivência. 


Já conhecíamos a Frota do Êxodo dos volumes anteriores, mas nunca tínhamos tido um contato tão próximo. A frota é composta por um conjunto de naves de alta tecnologia que vagou por anos até ser resgatado e aceito pela Comunidade Galáctica (CG). A questão é que muitos humanos optaram por continuar vivendo nessas naves, mesmo podendo manter residência em cidades alienígenas e colônias terrestres. Dessa forma, esse volume em específico foca nos humanos e suas relações enquanto comunidade. 

Para tal, Becky Chambers traz como protagonistas cinco personagens com jornadas distintas: Tessa, mãe de duas crianças, que após um trauma pensa em explorar novas alternativas fora do Êxodo; Isabel, uma idosa que trabalha nos Arquivos de uma das naves da frota; Kip, um adolescente encrenqueiro que, assim como muitos outros, não se enxerga vivendo em uma única nave para o resto da vida; Eyas, uma das pessoas responsáveis para dar um destino para quem morre nas naves que compõe a frota; e Sawyer, um forasteiro que chega ao Êxodo em busca de novas oportunidades, distante da realidade de miséria em que vivia em seu planeta de origem. É a partir da visão desses personagens que conhecemos a comunidade, o sistema que faz a frota funcionar, a cultura deles e, principalmente, o futuro e as memórias dos últimos humanos que conheceram a Terra.

O mais interessante em Os Registros Estelares é perceber que ao mesmo tempo que a vida na frota é muito diferente da nossa realidade — e da realidade de humanos que habitam outros planetas —, é também muito próxima do que vivemos aqui na Terra. Quer dizer... Nosso planeta não possui recursos infinitos, da mesma forma que a Frota do Êxodo não possui. É necessário um intrincado sistema para que a vida no espaço continue, mas isso não acontece na Terra também? Nos dois contextos, um trabalho não é mais importante que o outro, ou pelo menos não deveria ser. 

Foi justamente essa dualidade que me pegou. Aqui na Terra somos dominados por um sistema capitalista, em que os mais ricos possuem claros benefícios. Na frota, a realidade é quase utópica, porque as coisas só funcionam por causa do senso de comunidade dos habitantes. Ninguém é melhor que ninguém. Não existe dinheiro, tudo é na base na troca. Propriedade privada é algo que eles nem cogitam. Gerações e gerações de humanos sobrevivem no espaço, em eterna crise, unicamente porque cada um faz sua tarefa, inclusive após a morte. 

Além disso, existem as lutas pessoais de cada personagem. Os capítulos são intercalados entre eles, então conhecemos a rotina de cada um, seus dilemas, erros e acertos. Afinal, apesar do sistema fluir muito bem coletivamente, os personagens são humanos e, consequentemente, imperfeitos. Me afeiçoei especialmente a Eyas, tanto pelo modo poético com que lida com seu trabalho, que ainda intimida parte da população, quanto por sua personalidade, a forma que explora sua sexualidade e se relaciona com outras pessoas — não apenas sexualmente falando, é claro. 

Em questão de enredo, acredito que Os Registros Estelares tenha o mais parado até agora. Não que isso seja ruim, principalmente para quem já está acostumado com o estilo da narrativa da Chambers, mas pode trazer uma certa sensação de nostalgia, não sei bem explicar. Também achei que é o mais filosófico, ao menos até agora. Me fez refletir bastante sobre o mundo que estamos construindo, o que vamos deixar para as futuras gerações... E talvez a resposta para isso não seja muito boa, né? Enfim...

Eu gostei muito, muito mesmo desse volume, mais do que o primeiro, mas acho que o meu favorito ainda é A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada. Ainda que ambos falem muito sobre pertencimento, A Vida Compartilhada tem menos elementos a serem destrinchados, dando mais espaço para os protagonistas dentro da narrativa. Não que eles não tenham sido extremamente bem desenvolvidos em Os Registros Estelares, mas muitas vezes estava bem mais interessada por um núcleo X em comparação a um núcelo Y, por exemplo. 

Para finalizar, queria só fazer um comentário: o que me impressiona mesmo é Becky Chambers ser uma fonte inesgotável de criatividade. Mal vejo a hora de ver o que ela preparou para nós em Uma Galáxia Multicor e os Confins do Universo, último volume da série, e confesso que leria várias outras histórias inseridas nesse mesmo contexo. 

Título Original: Record of a Spaceborn Few ✦ Autora: Becky Chambers 
Páginas: 352 ✦ Tradução: Flora Pinheiro ✦ Editora: DarkSide Books
Livro recebido em parceria com a editora

6 comentários :

  1. Ola
    Acho lindo e tão diferente os títulos dessa série, são títulos longos mas não é difícil de memorizar . Embora não seja um gênero que eu curto tanto ,eu tenho vontade de ler . Espero que o próximo livro seja muito bom também.

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  2. Eu namoro essa série já tem um tempo, mas confesso que nunca consegui comprar. Pelo padrão Dark, os livros são bem mais caros que o normal, então fico no enrolando rs
    Mas eu achando que esse livro seria mais frenético e me surpreendi com isso de ser o mais parado ate agora,mas mesmo assim, com esse ver de cada personagem mais inteiro!
    Adorei e vou tentar começar a comprar a série!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  3. Não é o meu estilo de leitura.....mas o que me chama atenção nesse livro e na série de modo geral, são os nomes longos e impactantes. E nesse em específico, a crítica social. Não sei se é intencional mas a autora foi genial nesse quesito.
    Me pareceu que esse livro tem um ritmo mais acelerado que os outros

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  4. menina eu acho tão interessante essa série, to acompanhando sobre ela por aqui, acho que você é a única que eu vi falar até agora sobre.
    gosto de livros com uma pegada reflexiva, ainda mais com critical social.

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  5. A resenha me fez querer a série urgentemente ignorando outros livros, nesse volume parece a ver uma diversidade de personagens boa e me fez lembrar um pouco the 100 apesar de alguns poucos elementos em comum.

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  6. Eu acho muuuito interessante essa serie, amo mais ainda q se aprofunda nos personagens, no q sentem, aaaai e as capas sao lindas, lindas. Curiosa em ler outro livro da autora tb da morro branco.

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