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9 de agosto de 2024

Oi, Sumido, de Dolly Alderton: opinião sincera de uma não-leitora de romances


Se vocês acompanham o Roendo Livros, vocês sabem que a Ana, dona desse blog, adora um romance, dos levinhos aos +18. Já eu, Priscila, resenhista do Roendo, curto outros estilos, como fantasia, ficção científica e também sou uma amante dos clássicos. Então, eu tive uma ideia: pedi pra Ana escolher um romance, sem me contar qual, que ela já leu e gosta, dentre as muitas opções no catálogo da Intrínseca, para que a Editora me mandasse e eu pudesse dar a minha opinião.

Quando o pacote chegou, eu abri e me deparei com um livro todo colorido em tons pastéis (medo), o título é um pouco bobo, mas vale mencionar que o título original é Ghosts (um título bem mais robusto, mas falaremos disso depois), a sinopse revela uma protagonista na casa dos 30 anos (ufa) pronta para ter um relacionamento amoroso sério. Seu nome: Nina (um dos meus apelidos, uma coincidência legal). A autora: uma jornalista inglesa publicando sua primeira ficção após o sucesso de sua biografia, Tudo o que eu sei sobre o amor. Ok, promissor.

A narrativa é um pouco mais jovial do que eu imaginava no começo e Nina é engraçada de um jeito meio doidinho, o que me lembrou as comédias românticas dos anos 2000. O estopim para a história é o ghosting que Nina leva de um cara que ela conheceu num aplicativo de relacionamentos e que parecia perfeito para ela. Apesar de ser uma mulher bem sucedida profissional e financeiramente, Nina ainda se vê insegura quando o assunto é relacionamento amoroso, o que ilustra muito bem o quanto as mulheres têm seu valor avaliado com base em suas vidas amorosas apenas.

O ghosting em questão acontece lá pela página 170. Até esse momento a história estava bem morna. Apenas uma Nina deslumbrada com o homem intenso e low profile que ela conheceu pelo aplicativo, que diz coisas como "vou me casar com você" no primeiro encontro. Enquanto isso, o livro vai nos apresentando outros personagens, como a família de Nina, suas amigas e seu ex, com quem ela mantém uma relação próxima e amigável e que está prestes a se casar.

E, bem, é depois do ghosting que a história fica realmente boa, mas não pelos motivos que vocês possam estar imaginando. Acontece que também é nesse momento que o pai de Nina, Bill, começa a apresentar pioras em seu quadro neurológico. O pai de Nina tem apresentado sinais de demência após um derrame e suas memórias estão cada vez mais confusas, o que acaba fazendo com que ele se coloque em situações de risco. Isso causa problemas no casamento dele com a mãe de Nina, que também está vivendo um momento delicado de crise de identidade. A relação de Nina com a mãe também fica abalada, pois Nina não acredita que a mãe esteja fazendo um bom trabalho cuidando de Bill.

Achei muito interessante a forma como Nina incorpora isso ao seu trabalho. Nina escreve livros de culinária e sua ideia para seu próximo lançamento é unir culinária e memória, abordando como as nossas memórias afetam nosso paladar e nossas preferências, como o pai dela que volta a gostar de banana com leite condensado, uma de suas comidas favoritas da infância.

No fim das contas, Oi, Sumido, com esse título péssimo, se mostrou um livro profundo e delicado sobre amadurecer e envelhecer e sobre todos os fantasmas que surgem nesse processo, sobre as amizades que se perdem quando as escolhas de vida nos afastam, sobre ser difícil entender a dor do outro quando estamos imersos na nossa própria dor, sobre a cobrança que existe em cima das mulheres para constituírem família e estarem sempre dispostas e felizes com isso e sobre saudade.

O livro é cheio de diálogos intensos e discussões raivosas. É triste ver os personagens a beira do colapso psicológico, cada um a seu modo. Tem um confronto entre a Nina e a mãe dela em que a mãe diz: "Eu não quero ficar velha ainda, não estou pronta." e ela fala sobre como tem ido a mais funerais do que aniversários, do quanto ainda queria viver muitas coisas com o marido, mas a doença dele não para de avançar e é absolutamente devastador pensar em como amadurecemos e envelhecemos sem estarmos preparados para isso.

Inclusive, esse momento da mãe da Nina falando sobre não saber o que vai fazer depois que perder o marido me lembrou muito o discurso da Emily em Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar. Se você já assistiu a minisérie, você sabe do que eu estou falando.

Outra fala, dessa vez da Nina, que me impactou foi: "Tenho achado tudo muito difícil atualmente. E não consigo saber se esse é só um período complicado ou se a idade adulta é assim mesmo... só desapontamento e preocupação". SÉRIO, se você nunca pensou isso é porque você ainda não chegou na idade adulta.

A parte chata do livro é justamente o plot que está na sinopse. Todo o drama envolvendo o ghosting que a Nina leva do Max é completamente irrelevante se comparado com os outros assuntos que o romance aborda.

Enfim, fui surpreendida pela Ana. Achei que receberia romance clichê e ela me entregou crise existencial, o que é bem o meu estilo, já que eu amo dar uma choradinha com livros. Recomendo para todos. Sinto que a impressão que a edição dá, com sua capa coloridinha e seu título engraçadinho, não corresponde a 10% do que o conteúdo entrega. Ponto para o ditado: não julgue um livro pela capa.

Título Original: Ghosts ✦ Autora: Dolly Alderton
Páginas: 416 ✦ Tradução: Ana Rodrigues ✦ Editora: Intrínseca
Livro recebido em parceria com a editora
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8 comentários :

  1. Oiiii, como fã de um bom romance, achei o máximo você se aventurar no gênero.
    E que bom, que a Ana te escolheu um livro que vai além do clichê.... trata de relações familiares e de se encontrar mesmo sem um relacionamento amoroso

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  2. Um título praticamente nada a ver com o conteúdo do livro. Aliás, não dava pelo livro e me conhecendo(sou fã de terror e suspense)nunca compraria um livro com um titulo destes.
    Mas que escolha genial, que temas necessários e com uma abordagem profunda e que deixa o leitor em ponto de reflexão(coisa que também gosto muito)
    Com certeza já vai para a lista dos super desejados!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel

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  3. Priscila!
    Parece um livro intenso em vários aspectos, nas personagens, nos relacionamentos,
    sobre a velhice ou como envelhecer, enfim, deve ser aquela leitura introspectiva que nos identificamos de alguma forma.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Olá.
    Confesso que não daria nada para essa trama pela sua capa e título (não curto essas capas ditas fofinhas)Mas ao ler sua ótima resenha eu fiquei com vontade de conhecer Nina , sua mãe,seu pai ...pois a autora construiu personagens com dramas reais e gosto muito quando desse tipo de narrativa.
    Dica anotada

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  5. Um título praticamente nada a ver com o conteúdo do livro...² Talvez eu não leria. Mas, a abordagem dos outros temas parece bem interessante.

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  6. te falar fui muito surpreendida pela resenha, eu sempre tive curiosidade de ler esse livro, mas nunca fiz porque não queria tanto ler história de mais uma mulher sofrendo por homem (as vezes cansa um pouco) e pra minha surpresa é uma história incrível. sério fiquei chocada, vou dar uma chance pra leitura

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  7. Oieee, Eu já tinha visto esse livro sendo resenhado por aqui (espero não estar enganada até porque tenho memória de dory).
    Tenho curiosidade para ler esse livro e só de ler sobre do que se trata, já quero ler para ontem… Amei o comentário de que receberia um romance clichê e recebeu foi crise existencial… kkkk e bem meu tipo de livro...

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  8. Confesso que a capa e o titulo, que sim pode ser pessimo, me deixava bem curiosa em ler. Ate comprei ele em uma promo, tinha visto que ele meio que sai do esperado e fica mais profundo em temas, igual vc disse, entao acho que vou gostar dessa leitura.

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