A Ladra Amaldiçoada, de Margaret Owen: um "conto de fadas" ao contrário

Eu escolhi A Ladra Amaldiçoada de Margaret Owen a dedo, porque apesar de ser uma fantasia juvenil, não é um conto de fadas. Fiquei interessada nessa história justamente por contar o outro lado da história, a que não é tão bonitinha e que nem sempre tem um final feliz. Vanja é uma garota que foi abandonada pela própria mãe aos quatro anos de idade e foi apadrinhada por duas deusas, a Morte e a Fortuna. Aos treze anos ela teve que decidir qual das duas servir, mas não quis escolher nenhum dos dois caminhos. 

E é assim que, para escapar, Vanja acaba cometendo uma série de roubos, entre eles o da identidade de Gisele, a princesa que ela deveria servir. A criada consegue então frequentar as festas dos nobres, podendo roubar pertences de valor para financiar sua liberdade, assumindo não só a identidade da princesa, mas também a de Centavo Vermelho. Só que, para a infelicidade de Vanja, ela acaba esbarrando em uma deusa que a amaldiçoa, fazendo com que as partes do seu corpo se transformem em joias preciosas.

A criada precisa descobrir a cura de sua maldição dentro de duas semanas, ou estará fadada a um destino horrível. Só que um detetive espertinho entra na jogada, atrapalhando ainda mais a vida de Centavo Vermelho. E é claro que além disso, Emiric acaba virando o interesse amoroso dela (que diga-se de passagem não é mega desenvolvido, é bem slow burn, então não esperem muito da parte romântica).

A Vanja é um ícone, inteligente, sarcástica e trambiqueira. Ela é uma menina que está muito mais para vilã do que mocinha, e sua ganância acaba atrapalhando seus planos diversas vezes. É muito fácil gostar dela por causa disso, já que está muito mais próxima da realidade do que princesas perfeitas e imaculadas. Outra personagem que com certeza vale a menção é Ragne, que não tem como não amar. Ou seja, além de uma protagonista marcante, os coadjuvantes tem suas histórias e não passam despercebidos. E mais uma coisa para amar é a diversidade, já que personagens LGBTQIAP+ aparecem no livro com muita naturalidade. É algo que sei que a Seguinte tenta trazer bastante para o selo, então é uma curadoria interessante que eu gosto de observar.

Nenhum de nós quer ficar sozinho com as pessoas que fomos. Nenhum de nós dois precisa disso.

O livro é dividido em três partes, com sete fábulas. Parece confuso, mas não é, achei tranquilo. Inclusive temos ilustrações incríveis da própria Margaret abrindo as fábulas, me apaixonei pelo traço dela.

Ah, gostaria de ressaltar que o livro pode gerar alguns gatilhos, pois aborda assuntos sensíveis como abuso físico e psicológico, bem como abuso infantil. Nada é explícito, mas recomendo cautela caso seja sensível a esses temas. Achei muito responsável e bonita a nota da autora sobre isso, antes de começar o livro.

Tenho mais uma coisinha para pontuar, que pode ser importante para os leitores. Honestamente, eu não sou muito de livros de fantasia, então não sei se foi uma coisa só minha ou se isso acontece com a maioria dos leitores de A Ladra Amaldiçoada, mas eu demorei um pouquinho para conseguir avançar na história por causa dos nomes diferentes e até difíceis. Inclusive existe um glossário de deuses, termos, até moedas para explicar mais sobre a construção desse mundo novo que estamos adentrando.

O pequeno ladrão rouba ouro, mas o grande rouba reinos inteiros, e só um deles vai para a forca — Provérbio almânico

Gostei muito de A Ladra Amaldiçoada, foi uma escolha muito certeira. É uma fantasia muito legal, bem construída, com personagens cativantes e inteligentes e uma pitada de romance. Não vejo a hora de ler o próximo volume. 

Título Original: Little Thieves ✦ Autor: Margaret Owen

Páginas: 464 ✦ Tradução: Laura Pohl ✦ Editora: Seguinte

Livro recebido em parceria com a editora

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