Olhe de Novo, livro publicado no Brasil em 2025 pela Intrínseca, vai falar justamente sobre isso: a importância de não se habituar completamente, de preservar a capacidade de se maravilhar com o velho e de recuperar a sensibilidade frente àquilo que já virou rotina. Quem não se lembra de uma primeira vez emocionante, né?! A primeira noite na casa nova, o primeiro dia de trabalho naquele emprego tão sonhado, a primeira vez que você ouviu aquela música que se tornou a sua favorita. Nós, leitores, dizemos frequentemente que queríamos "desler" um livro que amamos só para podermos ler de novo pela primeira vez, sentindo todas as emoções e surpresas.
Como psicóloga, muitas vezes eu busco, junto a minhas pacientes, a chamada habituação. Quando lidamos com medos e fobias em terapia, precisamos expor graduadamente o paciente àquilo que o deixa ansioso para, dessa forma, gerarmos um processo de dessenssibilização e habituação. Recentemente, tratei uma jovem com fobia de agulha e foi justamente isso que fizemos (essa história termina com ela colocando um piercing kk'). Por outro lado, como afirmam Sharot e Sunstein, habituar-se a tudo pode ser um problema.
O excesso de habituação pode nos levar a parar de apreciar as belezas da vida comum, os prazeres da rotina e as qualidades de nossos companheiros. Os autores vão ainda mais longe e afirmam que a habituação às coisas ruins também pode ter efeitos negativos. Isso porque, quando nos habituamos a algo ruim, nos desmotivamos a buscar a mudança. Se você se acostuma àquele trabalho ruim ou àquele relacionamento tóxico, você corre o risco de se acomodar. Mas como manter o encantamento com o cotidiano? E como não se acomodar ao que é ruim e nocivo? São essas e outras questões que os autores irão explorar ao longo do livro.
Eu gostei muito dessa leitura e sempre gosto de enaltecer livros com fundo técnico publicados por editoras que não são especialistas nesse tipo de publicação. A Intrínseca, inclusive, tem trazido ótimos títulos voltados para a área da Psicologia, Neurociência e Saúde Mental.
Uma das ideias mais intrigantes do livro é a de que "as coisas boas da vida só vão desencadear uma explosão de alegria se você as tiver de vez em quando". Aposto que você tem vários exemplos disso na prática. Eu, por exemplo, sempre amei Pizza Hut. Na minha cidade não tinha essa franquia, então eu comia sempre que viajava. Era sempre tão bom e tão prazeroso. Então eu me mudei e na minha nova cidade tem Pizza Hut. No início foi um sonho, chegou ao ponto de eu passar uma semana inteira comendo Pizza Hut todos os dias. Adivinhem o que aconteceu? Isso mesmo: eu enjoei. Faz meses que não como Pizza Hut. A conclusão dos autores é interessante: se você quer manter o encantamento, faça pausas, pois "o prazer resulta da satisfação incompleta e intermitente dos desejos".
Ao longo do livro, os autores fazem conexões entre a habituação e a criatividade, a saúde, a avaliação de riscos e a felicidade, além de analisarem eventos históricos e conceitos sociais pela perspectiva da habituação, explorando, por exemplo, a forma como as sociedades se habituam a coisas terríveis, o que eles chamam de habituação das massas.
Olhe de Novo é uma leitura fácil e cheia de insights e reflexões pessoais. Adorei a capa, que é simples, mas brinca com a ideia de limpar os olhos para ver melhor. Recomendo!
Oi Pri,
ResponderExcluirSe visse esse livro na Amazon, com certeza teria passado batido, uma vez que, não é a minha praia literária.
Mas o seu post me fez pensar se não seria interessante eu dar uma olhada no livro.
Os pontos que você mencionou me deixaram reflexiva....
Principalmente em relação às fobias e as pausas naquilo que se gosta de fazer.
P.S. me deu gatilho o post kkkk as Pizzas Hunts daqui, simplesmente evaporaram kkkk