Eu já expressei aqui no blog algumas vezes o apreço que eu sinto com o catálogo de livros sobre Psicologia e Saúde Mental da Intrínseca. Sempre que vejo um novo título, especialmente aqueles escritos por profissionais e pesquisadores da área, eu me interesso. Com Terapeuta de Bolso não foi diferente. O livro, escrito pela psicoterapeuta e pesquisadora Annie Zimmerman, promete ajudar as pessoas a se libertarem de velhos padrões e transformarem sua vida. Apesar da promessa um pouco exagerada, a autora realmente conseguiu incluir alguns assuntos interessantes e dicas muito boas.
O livro aborda problemas e desafios pontuais e fornece dicas e estratégias pontuais para lidar com eles. Os capítulos falam sobre temas como depressão, ansiedade, traumas, dependência, relacionamentos, solidão, traição, término e luto. A autora introduz através de histórias de pacientes ficctícios, demonstrando como acontece o trabalho prático do psicoterapeuta. É interessante acompanhar caso a caso, se identificar com os "personagens" e ver como a autora trabalhou cada assunto.
Porém, eu não gostei desse livro tanto quanto eu gostei de outros no mesmo estilo publicados pela editora. De todos os que li recentemente, esse foi o que eu achei menos "científico". Por exemplo, outro título publicado pela Intrínseca que eu li recentemente e também resenhei aqui no blog, chamado Felicidade Não é a Cura, traz conceitos muito bem embasados científicamente, enquanto que este parece mais um amontoado de reflexões, pensamentos e conclusões pessoais.
O perigo das conclusões pessoais é que elas não são verdades científicas e, logo, não servem para todo mundo. E, se estão impressas num livro, muitas pessoas vão achar que as respostas que estão ali são verdades absolutas. Vamos aos exemplos:
Na página 118, a autora afirma que "uma crítica interior é sempre uma crítica exterior que foi internalizada". Não! Apenas não. Uma crítica interior pode ter diversas origens, como comparações, autocobrança excessiva, rigidez cognitiva e, sim, uma crítica exterior que foi internalizada. Mas não se resume a isso.
Na página 156, Annie diz que "relacionamentos fantasiosos são uma defesa contra a intimidade. Enquanto acontecem na nossa cabeça, não estamos arriscando o amor verdadeiro". Fonte? Nenhuma! Fantasiar relações ou idealizar parceiros pode ter diversas causas e pode, inclusive, ter influencias midiátiicas envolvidas. Quem nunca quis viver um relacionamento digno de uma comédia romântica dos anos 2000?
O livro está repleto de declarações deterministas desse tipo e eu me pergunto: como alguém que trabalha com a mente e o comportamento humano pode ter uma visão tão limitada das experiências humanas? Eu tenho 8 anos de atuação como psicoterapeuta e se tem uma coisa que eu aprendi é que nada é simples, nada é preto no branco e toda experiência é subjetiva. Não existe resposta padrão. Não existe solução simples para problemas complexos.
O problema de você achar que tem todas as respostas é que você não se abre para ouvir genuinamente e entender o outro de verdade. Imagina você chegar na terapia, começar a expor seu problema e a psicoterapeuta dizer "É isso!!!!" sem te dar chance de explorar melhor aquilo, sem analisar seu caso de forma individual e subjetiva. Para a autora, tudo que o paciente trás é a "ponta do iceberg" (essa expressão é usada incontáveis vezes). E ela, claro, é quem tem as respostas e sabe o que está no inconsciente do iceberg (vocês não estão vendo, mas estou revirando os olhos agora).
Mas, por outro lado, o livro também trás algumas (poucas) boas reflexões, como alertar sobre a importância de aceitarmos nossas emoções e sabermos comunicá-las. Pra não citar só trechos horríveis, vou citar um bom aqui. Na página 277, a autora diz que "aprender a confiar nas pessoas tem menos a ver com encontrar alguém que nunca vai nos machucar, e mais a ver com aprender a confiar que seremos capazes de lidar com a situação se elas nos traírem". E sim!! Quando trabalhamos confiança em terapia estamos trabalhando a sua confiança em si mesmo e na sua capacidade de lidar com os problemas e desafios que aparecerem. Não uma confiança cega nos outros, mas uma confiança realista em si mesmo.
Enfim, como psicóloga que adora ler livros de Psicologia, eu infelizmente não gostei desse livro. Tem toda uma questão sobre abordagem psicológica que eu não estou nem um pouco a fim de abordar, porque esse assunto é polêmico. Mas, minha dica é: se você estiver em busca de ajuda psicológica, cuidado com abordagens que não cumprem todos os critérios tradicionalmente exigidos para serem classificadas como ciência.
Uma pena, Pri, que Terapeuta de bolso tenha tantas teorias tiradas do bolso da autora (desculpa, não resisti ao trocadilho kkkk).
ResponderExcluirOs temas que você citou que tem no livro são relevantes e importantes mas precisam ser embalados cientificamente
Não conhecia esse título, fiquei curiosa, gostei da sua opinião, eu não sou muito fã de livros com essa temática.
ResponderExcluirVisite: https://tattooselivros.blogspot.com/